A procura de mim mesmo

Quem ainda não se imaginou menino, brincando na doce infância, naqueles folguedos que hoje não existem mais, sonhou com um Papai Noel de verdade, acordou antes da hora a espera dos presentes de Natal, não viveu, não sonhou, não teve paz, e nem mesmo pode admirar a beleza do mundo, já que a vida deve ser vivida em plena alegria, pois a tristeza e a melancolia de vez em quando nos consomem, nesta vida que deveria ser colorida e, no entanto, para muitos passam despercebida, reféns da saudade que nos faz pensar no quanto pessoas importantes não vivem mais.

Eu mesmo já fui assim. Uma criança de doces lembranças.

Todos os finais de ano eu vivia a espera daquela data que quase se confunde com meus cumpleanos. Já que aniversario próximo ao Natal os presentes se confundiam.

Mesmo assim eu não dormia na véspera das festas natalinas. Foi ali, naquela casa que se deixa ver pelos fundos, de janelas ainda fechadas, paredes caiadas de saudade, que passei grande parte da minha infância.

Quando deixei aquela casa, onde morava junto aos meus pais, foi para completar minha formação profissional.

Ausentei-me a contragosto. Foram anos de suma importância quando morei em Belo Horizonte.

Passaram-se anos. Foram imprecisamente oito.

Depois, naquele agora longínquo mil novecentos e setenta e sete de novo em minha querida Lavras passei a morar.

Cheguei pensando saber de tudo. Ledo equívoco. Os anos e a experiência acumulada neles me ensinaram que nem tudo que reluz é ouro.

Cometi senões. Passei noites em claro tentando remediar o mal feito. E creio que os acertos superaram os desacertos.

Hoje tenho exatos quarenta e cinco anos de formado. E nem sinto o tempo passar.

Pensando na vida, na distância percorrida pelos anos, na situação confortável em que me encontro, nos netos que a vida me fez presente, só tenho motivos para agradecer.

Mas, ainda estou à procura de mim mesmo. Onde anda aquele menino de calças curtas? Cabelos louros. Muito parecido ao meu neto Theo?

Por onde anda a minha infância perdida? Onde estarão meus amigos de infância? Bem sei que muitos deles já partiram. Deixando uma lacuna impreenchível por detrás da saudade que me consome.

Por vezes me procuro e não me acho. Sei que a mocidade deve ser lembrada com saudade. Mas, infelizmente os bons anos não voltam mais.

Procuro-me naquela rua que ainda faz parte dos meus dias atuais. Por ela sempre passo ao cair das tardes. Faço uma visita rápida a minha irmã Rosinha. Ela dorme a esta hora. Nos fundos da casa tem um pé de jabuticaba. Ontem mesmo subi por ele. E não me encontrei nos galhos mais altos.

Ainda hoje me procuro e não me encontro. Pra onde foram meus vinte anos? E meus desenganos? São poucos. Em comparação aos que muitas pessoas passam.

Confesso uma incógnita que me atormenta. O que vai ser de mim amanhã? Ou depois de outro amanhã?

Só sei que ainda estou à procura de mim mesmo. E não me encontro.

Talvez me encontre em outra vida. Se é que ela existe.

A verdade é que não me encontro aqui. Talvez ali, ou acolá, relembrando sempre o passado. Doces lembranças de quando fui criança, ao lado dos meus pais.

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