Sem opção

Quantas vezes a gente, sem perspectivas de sucesso, envereda-se por um caminho, o qual pensava ser o certo, e se equivoca, contrariado, e tenta voltar, e não consegue.

Eu mesmo pensei, durante anos da minha vida, ir, por aquela encruzilhada, e descobri, depois do logro consumado, retrocedi. E acabei acertando. Graças aos anos que me dotaram de sabedoria. Que somente os anos vividos nos agraciam.

As opções são muitas em nossa existência.

Escolher a exata é o pulo do gato.

Decidir qual profissão trilhar é outra indecisão que assola a cabeça dos mais jovens.

Tornar-se médico, engenheiro, ou até mesmo cabeleireiro, podem ser opções que confundem os moços. Esses mesmos moços, ah se soubessem o que sei.

Com a experiência acumulada pelos anos que já vivi, iria, por certo, pelo mesmo caminho que elegi.

A mesma indecisão aconteceu com um jovem que conheci.

Ele nasceu em berço doirado. De pais abastados. Família rica.

Joaquim tinha tudo para ser feliz.

Estudou a princípio em escola de boa fama. Era aluno mediano. Tirava notas acima da média. Mas, por influência de más companhias deixou os livros de lado. E enveredou-se pelo caminho errado.

Aos doze anos alguém ofereceu-lhe uma guimba de cigarro.

Aquela fumacinha aparentemente ingênua tinha um odor adocicado. Era maconha. Daí a vícios maiores foi um pulo de gato esperto.

Joaquim acabou se tornando um viciado. A marijuana foi o trampolim para vícios maiores.

Cheirava cocaína. Quantas vezes uma alma piedosa ajudava ao pobre moço a sair da sarjeta.

Já não tão jovem Joaquim abandonou a família. Ela mesma o rejeitou. Passou a morar na rua.

Dormia nas praças.  Por falta de opção de vida passou a traficar. Foi preso durante uma batida da policia. Passou um mês inteiro entre as grades de uma cela infecta. Dali saiu ainda pior.

Aos quarenta anos, parecendo mais, o infeliz Joaquim acabou sendo internado numa casa para dependentes químicos. Passou dois anos inteiros tentando se recuperar.

Quando o conheci, num dia de primavera, lindo, encontrei-o numa unidade de saúde pública.

Ele me pediu, quase uma súplica, que o ajudasse. Não conseguia dormir. Trazia na face olheiras profundas. Olhos encovados. Cabelos em desalinho.

Prescrevi-lhe uma receita de tarja preta. E fiz a ele pedidos de exames.

Um mês inteiro se foi. Joaquim desapareceu.

Quando já pensava no pior reencontrei-o na porta de um banco. Ele, com olhos mortiços, esquálido, mendigava. Reconheci o pobre Joaquim graças a um pequeno detalhe. Era o mesmo olhar sem vida que me procurou naquela unidade de saúde.

Trocamos um dedo de prosa. Ofereci-lhe uma nota de dez reais. Na intenção de que ele comprasse algo que comer. Mesmo sabendo que aquela importância seria para comprar droga mesmo assim depositei em sua mão estendida aquela mísera quantia.

Joaquim mal me agradeceu. Despedi-me desejando-lhe melhor sorte. Foi quando ele abaixou os olhos.

Hoje penso no destino incerto do infeliz Joaquim.

Quantos, como ele, vivem pelas ruas. Mendigando migalhas. Dormindo ao relento. Sem saber o que vai ser no dia de amanhã.

A vida nos oferece algumas opções. Quantos de nós escolhemos o caminho certo? E quantos outros enveredam-se pelo caminho errado.

No caso do Joaquim, mais um desafortunado, a vida para eles perde a razão de viver. Tomara numa outra vida eles consigam seu lugar ao sol.

 

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