Já não é como antigamente

Neste começo de primavera tenho pensado na vida.

Hoje faz sol. Uma brisa fresca me saúda ao nascer do dia.

No decorrer do dia deve esquentar. Nenhum sinal de chuva no alto.

O sol brilha forte. O azul do céu ofusca-me o pensamento.

Como de sempre deixo a cama bem cedo. Antes das seis já me ponho de pé.

Ontem fui a uma festa de criança. Levei comigo meus três netos.

Theo, Gael e Dom hoje são minhas doces companhias. Através deles me renovo. Theo e Gael já caminham sozinhos. É preciso estar atento a seus passos inseguros. Já o pequenino Dom começa a engatinhar. É uma criança adorável. Que conquista a qualquer um com seu sorriso de menino.

Naquela festa, numa casa especialmente construída para este fim, passamos horas agradáveis.

As crianças não param um segundo sequer. Correm, pulam naquelas mesas elásticas, jogam basquete, entram naquele labirinto subindo lépidas pelas escadas, que não permitem se deixar ver. É preciso cuidado para que não aconteçam acidentes. Os pais, vigilantes, cuidadosos, não desgrudam seus olhos daqueles pimpolhos. São serelepes corredores. Ávidos saltadores. Como corças saltitantes pelas savanas africanas.

No meu tempo não era assim. As festas de aniversário no máximo exibiam um pequeno bolo. Enfeitado de velinhas indicativas da idade que naquele dia comemoramos. Alguns docinhos eram disputados sofregamente pelos convidados. Quase não sobrava nada para o aniversariante.

Não se servia cerveja. Alguns suquinhos coloridos, alguns petiscos feitos pela nossa avó, era o que a família podia oferecer. Nada mais. Nenhuma guloseima a menos. Mesmo assim nos divertíamos. Sem acidentes de percurso. Sem disputas entre os meninos.

Hoje já não é como antigamente. Os tempos mudaram. Se pra melhor? Não sei dizer.

O fato que as crianças mudaram. Mudaram os brinquedos. Antes não havia tabletes ou celulares.

Tudo muda ao sabor do tempo. Mudamos nós. Felizmente.

Ainda me lembro dos velhos tempos. Quando comecei a estudar. No mesmo colégio onde aprende as primeiras letras meu primeiro neto.

Não havia tanta dificuldade para entrar na escola. Esta fila enorme que se vê agora não existia. Íamos à escola numa vã escolar. Comportadinhas crianças. Creio que não tanto ingênuas como se vê agora. Mas, no entanto éramos as mesmas crianças. Como as de hoje. Se melhores, ignoro.

Os tempos mudaram. Mudei eu. Agora, que não mais sou menino, longe da mocidade, como me sinto a vontade naquela festa de ontem a noite.

Bem sei que já não é como antigamente. Tudo muda. Até a feia crisálida se metamorfoseia.

Antes a inocência predominava. Já hoje a maldade invade as nossas casas.

Se disser que hoje não é como dantes não invento nenhuma novidade.

Nem digo que as coisas nos tempos de hoje são melhores que antigamente. Nem que o reverso da medalha é coisa que o valha.

Hoje faz sol. Eis que chegou a primavera. Amanhã é a vez do verão. Depois de depois de outro amanhã é a vez de outra estação.

Amanhã é outro dia. E como passa o tempo. Não tenho mais vinte anos. A infância se foi nas asas do vento.

Acordei, na manhã de hoje, com um estranho pressentimento. Sonhei que ainda era criança. Acordei, olhei no espelho, e deduzi. Sou agora um velho ancião. Ainda me sentindo jovem.

Pena que já não sou mais como antigamente.

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