Zezinho e o sorriso da primavera

Que lindo dia amanheceu naquele vinte e três de setembro. Céu azul. Um sol tímido a iluminar a manhã. Um vento maroto assoviava desde o despertar do dia.

Zezinho se pôs de pé antes das cinco da manhã. Lá fora o sol resplandecia.

Embora a chuva se fizesse necessária, pois não chovia há meses, nenhum indício de chuva se mostrava no alto.

As previsões não se concretizavam. Dizia um compadre, vizinho de terra, que quando a flor do ipê se despetala ela não cai na terra poeirenta. Mas daquela vez parece que Seu Nicanor se equivocara. O azul do céu contrariava toda as previsões. E o vento fresco empurrava a chuva para outras plagas. Assim se mostrava o tempo.

Era início de primavera. Fores embelezavam aquela terra ressequida. Imaginem o sorriso da primavera caso a chuva descesse do céu. Seria um sorriso lindo.

Zezinho, naquela manhã de uma segunda-feira, acordou com um estranho pressentimento. Sonhou que iria chover. E era preciso.

A pastaria ressequida exibia uma cor descolorida de um amarelo desbotado. A poeira manchava tudo ao derredor.

Era hora de tomar um cafezinho magro. Na trempe do fogão a lenha um bule cheio de café ainda estava aquecido.

Em menos de dez minutos Zezinho estava pronto às tarefas do dia.

Passou uma ducha fria na cara sonolenta. Escovou a dentadura recém-feita por um dentista do povoado perto da roça onde morava.

Zezinho vivia só. Aos quase cinquenta anos, apesar de as oportunidades aparecerem, Zezinho não se interessou por nenhuma mulher. Aos quinze anos teve uma paixão. Que se foi como as asas do vento. Depois de algumas desilusões com as mulheres jamais pensou em se unir a outra fêmea. Ele se bastava. Pelo menos assim pensava naquela altura de sua vidinha singela.

Felizmente Zezinho tinha saúde. Foi ao médico apenas uma vez. Foi por causa de uma doencinha banal. Restabeleceu-se depois de uma semana no leito.

Naquela primavera em seu começo Zezinho celebrava seus cinquenta anos. Era uma data sem significado para ele. Já que quase não tinha amigos. Nem aparentados.

Naquela manhã de primavera Zezinho, depois de um cafezinho requentado, acompanhado de uma broa de milho, preparou-se para as tarefas do dia.

Lá fora o sol sorria. Tudo resplandecia num clarume de cegar os olhos. Era começo de primavera.

Zezinho foi ao curral. Vacas mugiam de fome. Com os úberes cheios de leite.

Depois da ordenha da manhã, de encher três latões com um leite quentinho, o madrugão homem da roça foi ao pasto à procura da mula charreteira. Encontrou-a debaixo de uma árvore copada. Não foi fácil convencê-la de que era hora de puxar a carroça a fim de levar o leite ao ponto onde o caminhão passava.

Antes da sete da manhã toda a produção de dois dias encaminhou-se ao lacticínio. O leite era a renda que mantinha vivo o feliz Zezinho.

Naquele começo de primavera as flores desabrocharam naquela manhã bem cedo.

Azaléias, petúnias azuis, ipês ainda floridos, davam as boas vindas ao feliz homem do campo.

A vida sorria para aquele homem bom. Desprovido de vaidades. Feliz ao seu modo. Sem se preocupar com o dia seguinte.

Já para muita gente, que vive na cidade, atropelado por seus problemas, a vida parece sem nenhuma perspectiva de felicidade.

A primavera não sorri para muitos de nós. Como se acostumou a sorrir para quem faz do simples o descomplicado.

Viva como se hoje fosse o derradeiro dia. Que esta primavera que se anuncia sorria para a gente. Não vale a pena viver sem alegria.

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