E eu que duvidava

Desde menino, não tanto ingênuo como em dias de hoje, era um notório perguntão.

As dúvidas me assediavam.

Na escola, aprendendo a conviver com outras pessoas, na hora do recreio, pensativo, cabisbaixo, inquiria a mim mesmo o porquê de tantas coisas.

Seria mesmo a terra redonda? Por que razão os pássaros voam e gente não consegue sair do chão? Qual seria o motivo das meninas brincarem entre elas. E de vez em quando, num descuido, quando passava os olhos em suas lindas carinhas, e elas, ruborizadas, desviarem seus olhinhos em outra direção.

Por qual razão ficava de castigo depois de uma travessura qualquer? E logo me era permitido sair assim que minha querida mãe, olhando minha cara de desconsolo, me apontava o dedo, e logo me advertia para não cometer novo pecadilho. Se fosse um bom menino poderia sair de casa, para brincar naquela pracinha perdida em meus devaneios.

Quantas dúvidas me assaltavam. Não de armas em punho. E sim na minha cabecinha sonhadora.

Até hoje, uma vez deixando de ser menino, velho não assumido, questões ainda questiono.

Por que razão tanta gente passa dificuldades. Enquanto outras vivem nababescamente.

Neste mundo tão díspare. Onde os ricos engrossam as estatísticas. Conquanto os menos aquinhoados mendiguem migalhas. Dormindo nas ruas. Passando fome e outras necessidades.

Algumas vezes duvidei da presente Dele. Onde Ele se esconde? Já que nunca o vi. Seria a casa de Deus entre as nuvens?

Ou nas igrejas, nos templos, onde imagens sacrossantas feitas à imagem e semelhança Dele ficam estáticas nos altares. E não falam com a gente.

De vez em quando percebo da presença de Deus nas minhas andanças. Sob a forma do vento. Da chuva que cai. Das folhas mortas que se desprendem da árvore mãe.

Confesso, não no confessionário, que por vezes descreio da presença de Deus.

Andando pelas ruas, pelos passeios lotados, cheio de desempregados, mãos estendidas, por que seria que Deus não os acolhe em sua bondade divina? Seria por falta de emprego no céu? Ou simplesmente Ele está por demais ocupado em suas tarefas cotidianas?

Ou cabe a nós, filhos de Deus, estender as mãos a quem precisa. Já que fomos aquinhoados, seja de berço, ou por pura sorte, por uma fatalidade, substituir ao bom Deus, já que Ele esta tão ocupado.

De vez em quando duvido da presença de Deus. Não sempre.

Ontem, ao cair da tarde, depois de malhar numa academia, como de costume faço, olhei pela janela, e vi, uma árvore florida recente de amarelo ouro.

Era um ipê amarelo. A grande árvore copada despejava suas flores ainda vivas sobre a relva ressequida deste mês de agosto.

Tratava-se de um espetáculo grandiloquente. Lindo, inspirador, maravilhoso.

Tentei conversar com algumas daquelas flores. E elas me responderam. Quando a elas perguntei sobre a presença de Deus. Se em verdade Ele existia. E onde Ele se escondia.

Em coro elas me responderam: “não duvide da presença de Deus. Em cada uma de nós ele se deixa ver. Inclusive na nossa arvore mãe. Que floresce sempre nesta mesma época. Quando a gente cai, não morremos. Renascemos como adubo. Como você mesmo, quando morre, renasce sob a forma de uma criança. Doce esperança de uma vida melhor”.

Deixei aquele clube ciente que Ele existe. E, a partir daquele momento, único, trago Deus dentro de mim. Para sempre. Até quando deixar de existir. Como aquelas flores do ipê. Que não morreram. Simplesmente desprenderam-se da árvore mãe. Para no ano vindouro novamente repetirem o ciclo.

Se alguma vez duvidei da presença de Deus não duvido mais. Bem sei que ele cuida de nós. Seja nas horas difíceis. Ou naquelas onde o sorriso predomina.

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