O dia em que Zé Pinguim congelou

Como fazia frio naquela manhã!

O sol brilhava forte. Nenhuminha nuvem no céu.

Zé deixou a casa por volta das quatro da madrugada. Tiritava de frio.

Ele morava num pedaço de chão longe de onde a vista alcança.

Depois de tempos de desemprego conseguiu um serviço de boiadeiro. E era longe de onde morava. A tal fazenda, de muitos acres de terra, pertencia a um grande empresário da cidade.

Zé, acostumado à lida da roça, vindo do distante nordeste, não se sentia a vontade quando a temperatura descia muito. De onde viera não se sentia frio igual.

Mas, como o trabalho era difícil no seu rincão, não lhe restou outra opção senão se mudar para o sudeste. Passar o inverno em tal cenário por certo para ele seria uma prova de resistência.

Por sorte Zé vivia na sua própria companhia. Não havia se casado. Contava naqueles tempos difíceis com cerca de vinte anos de idade.

Assim que chegou ao novo trabalho foi recebido pelo patrão. Foi quando foi apresentado as suas novas funções.

Cuidar do rebanho, de mais de mil bois em ponto de engorda, vermifugar todos eles, vacinar quando a época exigia, e trazer as crias ao curral assim que elas nasciam.

Naquela manhã a temperatura oscilava entre cinco e dez graus centigrados. Zé nunca sentiu tanto frio em sua vida curta.

Agasalhado, como podia, Zé tiritava de frio. Quem lhe tocasse a orelha por certo sentiria que aquele apêndice iria congelar. E poderia se desgrudar do resto. O nariz, então, mais parecia um cubo de gelo duro. Dos sobrolhos pendia uma gota de neve. Suas mãos enrijecidas estavam azuladas. Todo seu corpo esquálido mal se movia naquela manhã.

Assim que tomou café parece que Zé esquentou um cadiquinho. E logo saiu a invernada para ver como estava a boiada naquela pastaria onde a geada tomava conta de tudo.

Ali passou duas horas. Depois de constatar que tudo ia bem. Os bois, gordos como porcos em tempo de abate, as vacas a lamberem as crias.

Zé voltou a sede da fazenda. Dentro daquela sala enorme fumegava uma lareira acesa.

Ali não estavam os donos. Eles haviam partido rumo à cidade.

Zé aproveitou para um cochilo curto. Já que não tinha dormido bem durante a noite.

Foi quando foi acordado pelo capataz. Um sujeito mal encarado. Que não inspirou nenhuma simpatia ao pobre Zé.

Na manhã seguinte tudo se repetiu. Zé acordou cedo. O frio estava mais congelante que a manhã anterior.

Assim que chegou a fazenda o tal capataz, de mal com a vida, ordenou ao pobre Zé que fosse juntar os bois. E indicou-lhe um cavalo recém-arreado que iria levá-lo a invernada.

Acontece que o infeliz Zé, alcunhado de Zé Pinguim, nunca havia montado num animal de quatro patas. Mesmo assim teve de cumprir as ordens do chefe imediato.

Uma vez em cima do animal ele corcoveou. Quase o mandou ao chão. Zé equilibrou-se como pode. E saiu às carreiras pasto afora. Como fazia frio naquela manhã.

Por volta das seis, daquele dia frio, assim que Zé Pinguim chegou a invernada notou que faltavam alguns animais. Tudo estava coberto de uma camada de gelo fino.

Nada se via além de uma neblina cinzenta.

Zé passou metade da manhã campeando os faltosos. E nada de encontrar os bois desaparecidos. Antes de voltar a sede da fazenda ainda passou por um rio congelado.

Foi lá que o cavalo empacou. O infeliz Zé Pinguim foi lançado de costas dentro daquela água fria. Tentou romper a camada fria de gelo. Mas não teve sucesso na empreitada.

Na fazenda deram falta do Zé. A procura durou menos de uma semana. Foi quando encontram o pobre Zé Pinguim enterrado dentro do rio congelado. Mais parecia um bloco de gelo. Durinho como sempre foi em vida.

A morte de Zé Pinguim não foi sentida tanto como sua vida. Afinal era menos um peão a procura da felicidade. Que não foi encontrada aqui na terra. Quem sabe noutro lugar Zé a encontre? Tomara.

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