Quanto tempo faz

Quase nos meus setenta anos retrocedo no tempo.

Como ele passa veloz. Hoje já é segunda-feira. Mês de junho. Precisamente no dia dez.

Amanhã entramos quase no meio do ano. Este ano me faz pensar.

Quando julho chegar nem demos conta das horas que passarinharam rapidinho. Elas andam que nem passarinhos. Avoando para longe de nós. Deixando atrás todas as lembranças findas. De como a infância se foi pra longe. De quando éramos meninos.

Aliás, por falar em crianças, como elas nos deixam felizes. Ao lado dos meus netinhos me transporto ao seu tempo. Pena que meu tempo acaba em alguns anos. Quantos serão? Nem quero saber.

Quanto tempo faz que morava naquela casa da rua que se avista da minha janela. Agora não moro mais. Moro aqui pertinho. Juntinho aos meus netos. Foi uma feliz decisão a minha. Ao lado deles parece que volto no tempo. Faço de conta que de novo sou criança. Brincando de finca e amarelinha.

O tempo passa e eu nem percebo. As horas avoam sem que eu note a velocidade do tempo.

Antes tinha vinte anos. Agora estou longe da mocidade. Entrando na melhor idade. Pena que a velhice nos prega algumas peças. As doenças preferem os mais idosos. E acabamos a mercê de cuidadores de velhos.

Quanto tempo faz que me consorciei aquela mulher. Meu filho mais velho conta com quarenta anos. Quase estou prestes a completar quarenta e dois anos de casado. E não parece tanto tempo assim. Mudamos nós? Ou apenas nosso corpo, ainda sedento de vida, não tem a mesma vitalidade de dantes. Não tenho do que me queixar. A visão parece que melhorou. As pernas, então, estão prontas a longas caminhadas. A clarividência está mais aguçada. Os sentidos em alerta máximo. A inspiração ainda maior que nos velhos anos.

Quanto tempo faz que para aqui me mudei? Quão longe se parece aquele ano de um mil novecentos e setenta e sete. Foi quando iniciei, nesta cidade tão linda, meu caminho de médico. Foi uma sábia decisão que tomei.

E aprendi, com o passar do tempo, a apreciar mais a pessoa que me tornei. Antes era mais intempestivo. Mais afoito e controvertido. Achava-me o único biscoito do pacote. Agora consegui, não apenas domar a ansiedade, bem como ouvir mais. Antes de emitir um diagnóstico.

Com o sacolejar do tempo aprendi a observar as horas sem me preocupar com o passar do tempo. Aprendi que ele passa. Independente de apreciarmos ou não.

Como o tempo passa, sem a nossa interferência, já que não podemos ir contra os contratempos, o melhor é ficar a mercê do tempo. Sem o menor constrangimento.

Quanto tempo faz que a juventude passou. E não pude influir no desenrolar do tempo.

Não faz tanto tempo assim que deixei pra trás meus vinte anos. Podem dizer que se trata de mais uma leviandade minha. Mas estou feliz na idade que agora abraço.

Quanto tempo faz que nasceram meus netos. Parece que foi ontem. O Theo está perto de completar três aninhos. O Gael e o Dom quase contam hoje com um ano de idade.

E o amanhã? E o depois de depois de outro amanhã?

Caso fosse me preocupar com o tempo perderia o sono. Amanhã vai ser outro dia. O que conta é viver o tempo que nos resta sem perder a lucidez que nos contempla.

Hoje estou quase setenta anos. Amanhã, com o passar do tempo, quantos dias mais me sobram? Não importa. Desde que seja feliz. Junto aos meus.

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