Atropelos

Quem ainda não se viu a mercê de dificuldades na vida ainda não viveu.

Tropeços, escorregões, aflições, são obstáculos que os fortes abatem, os fracos derrubam, desde quando nascemos ao despontar da velhice.

Desde crianças as vicissitudes se interpõem em nosso caminho. Fraldas sujas, beicinhos quando não apreciamos a papinha que nos é oferecida, aquele andar titubeante, trombando aqui e acolá, sãos os primeiros atropelos que a gente encontra pela frente.

Nossos pais são os grandes responsáveis por aprendermos a enfrentar estes atropelos.

Uma vez jovens, uma vez que aprendemos a cair e nos levantarmos, a vida continua a mostrar outros atropelos pela frente. A indecisão de qual profissão abraçar é uma delas. Talvez a que mais nos angustia.

Ah!, não tenho saudades do vestibular. Tempos difíceis pensava eu. Mas, nem de longe imaginava que mais intempéries se interporiam entre eu e o sucesso. Longe estava de alcançar meus objetivos.

Uma vez escolhido ser médico quantas indecisões ainda estava por vencer. Até que foram felizes aqueles anos da mocidade perdida. Não havia tanta disputa para conseguirmos o nosso ideal.

Um cálculo renal me ajudou a escolher qual especialidade abraçar. Como doeu aquela pedrinha marota! Até que foi expelida ao exterior. Graças à competência de um colega doutor.

Até a graduação não tive tantos atropelos pelo caminho. Fui feliz tanto na escolha. Como também no serviço de residência elegido.

Uma vez titulado urologista, ainda inexperiente e jovenzinho, vim ter aqui, nesta cidade que tanto amo. De onde poucas vezes arredei pé. A não ser para viagens de férias. A congressos da especialidade. Onde procurei não apenas me atualizar. Assim como rever velhos amigos.

Atropelos tive no decorrer da minha vida profissional. Quem milita em medicina bem sabe quantas dificuldades a gente tem pela frente. São noites mal dormidas. O telefone nos chama na escuridão da noite. Temos de enfrentar as doenças. Muitas vezes somos vencidos pelo cansaço. E muita gente não entende que médico também precisa dormir.

Os atropelos nos acompanham vida afora. Eles fazem parte da vida.

Hoje, na plenitude da clarividência que me considero, não tenho tanto medo dos atropelos. Um dia bafeja o sol. Noutro as nuvens encobrem a claridade.

Assim vou vivendo. Feliz da vida por ter conseguido vencer os atropelos.

Espero, nos próximos anos, enquanto estiver por aqui, com saúde, entendimento perfeito, ainda consiga superar atropelos.

Pena que tanta gente não consiga vencer os próprios. E acaba mergulhando no desespero.

A vida é cheia de tropeços. Caímos hoje. Levantamo-nos no mais tardar amanhã.

Hoje brilha o sol. Noutro dia cai a chuva. E a gente, ao nos levantarmos, todas as manhãs, devemos pedir a Deus que nos guarde. Ilumine-nos. Nos dê forças para superar os atropelos.

Pois nem toda a felicidade nos pertence. Por que não distribui-la equitativamente. Fazendo felizes aos outros. Nesta nossa estada tão curta neste planeta. Mera passagem. Cheia de atropelos.

Feliz segunda-feira a todos vocês. Amigos ou simpatizantes. Espero que nesta semana que tem começo todos vocês saibam superar os atropelos. Como eu tento. Pena que por vezes não consigo.

 

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