Aquelas ausências sempre presentes

Existem pessoas que mesmo a sua falta deixam sua marca indelével em nossas vidas.

A morte é a conclusão de nossos sonhos. Ela se torna o fim inconteste do nosso viver.

Nascemos numa hora bendita. Como é lindo aquele momento. Não me lembro de quando nasci. Mas dos meus dois filhos, meus três netinhos, como aquela ocasião especial me fez sorrir.

Ao ter nos braços o produto de um amor compartilhado sentimo-nos como se a vida começasse de novo. Um filho marca aquele solene momento. E quando nasce um neto? Do regaço de nossa filha? Aí sim. É a materialização de uma alegria completa.

Ao assistir aquele parto senti-me como se a presença divina se mostrasse em carne e osso.

Até hoje, passados quase três anos do nascimento do Theo, ainda não me esqueço de quando tive aquele pequeno pedaço de gente grudado a mim. Aquele chorinho primeiro. Aqueles olhinhos ainda fechados. Aquela pele branquinha, ainda sujinha do líquido amniótico.

Pena que todos os momentos que vivi se foram na brisa do vento. Como era bom ter meus pais junto a mim. Foram anos bons, os melhores que tive.

Meu pai veio a se despedir de nós depois de pertinaz enfermidade. Como sofremos juntos nossos derradeiros instantes.

Já minha saudosa mãe foi comigo ao hospital. Ela já demostrava sinais indeléveis de cansaço. Subimos arfantes ao centro cirúrgico. Onde ela se foi, pra sempre. Debaldes foram os esforços para mantê-la viva. Como doeu dentro de mim esta nossa despedida.

Aqui, onde escrevo, no sétimo andar deste prédio, de onde se descortina parte do meu passado, tenho registrado em fotografias as presenças de um e do outro.

Minha mãe fica por detrás de onde estou. Meu pai bem a frente do meu computador.

São apenas fotografias. De tempos pretéritos. Mas como gostaria que ao invés de apenas retratos pudesse abraçar os dois. Como o fiz em tempos idos.

Suas presenças, ainda vivas, fazem parte das minhas lembranças. Aquela casa que daqui se avista pelos fundos foi onde aprendi que amor aos pais não se deve sonegar jamais.

A fotografia do meu pai, numa reunião de Rotary Clube, quando eu lhe entregava um certificado qualquer, ou ele a mim, faz parte de uma ocasião especial. Já a da minha mãe, entre eu e minha esposa, fica entre tantas que coleciono, junto aos livros da minha lavra.

São pessoas especiais. Ausentes do meu abraço. Mas ainda todas elas estão presentes. Embora apenas na minha saudade.

Ausências a gente pranteia. Saudades ecoam fortes.

Ao me lembrar dos meus pais ausentes sinto uma imensa saudade. Ambos são ausências sentidas. Presentes apenas nos meus pensamentos.

Ao ver as fotografias dos meus progenitores percebo, num átimo, que todos eles são ausências presentes, durante todo o tempo que me resta. Até o derradeiro assopro de vida. Até o último instante.

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