Mesmo com seus defeitos a amo de qualquer jeito

Daqui do alto, deste meu sétimo andar, ainda cedo, céu encoberto por uma neblina densa, observo suas ruas ainda desertas, seu casario baixo, alguns prédios se mostram entre as casas, a serra da Bocaina não se deixa ver, o belo jardim, cartão de visitas da nossa cidade, todo sorridente espera os madrugões, como eu. Aquela rua de tantas lembranças ternas com certeza já acordou. Com seu hospital, que não dorme, suas escolas, tantas que são, já abrigam os estudantes, como eu amo a minha cidade, não de berço, de coração.

Lavras adentrou em mim desde aquele longínquo um mil novecentos e cinquenta e cinco.

Aqui cheguei quando contava cinco anos.

Foi aqui que aprendi as primeiras letras. Vindo de Boa Esperança, para aquela cidade perto poucas vezes voltei. Não por falta de saudade. E sim por considerar Lavras o meu verdadeiro rincão. E o local onde repousam as melhores lembranças da minha infância.

Foi bem ali, naquela rua, que daqui se avista pelos fundos, onde moravam meus pais, pela qual tenho a maior afeição. Foi naquele clube, pra onde vou, ao fim das tardes, onde aprendi que o esporte não apenas educa, como deve fazer parte do crescimento sadio das futuras gerações.

Foi em Lavras que constituí família. Foi exatamente aqui que edifiquei um patrimônio modesto. O qual me permite viver confortavelmente. Foi aqui que estudei, grande parte da vida. Poucas vezes deixei a minha Lavras querida. Mas logo voltei, saudoso da sua gente, da sua fama de boa madrasta, de excelente educadora, de esparramar cultura aos quatro cantos do país.

Foi Lavras a cidade que elegi como minha. Embora não tenha nascido aqui.

Bem sei que ela tem defeitos. Quem não os tem?

Podem dizer que lhe faltam oportunidades de trabalho. Que o trânsito fica complicado nas horas de rush. Que a saúde vai mal. Principalmente quando se fala no serviço público.

Dizem ainda que Lavras carece de representatividade quando se fala nas esferas mais altas do cenário nacional. E comentam ainda que a política não reflete a relevância que a cidade tem no cenário brasileiro. Faltam representantes tanto na assembleia como também na câmara federal.

Dizem, as línguas ferinas, que na minha cidade o transporte coletivo deveria ser mais eficiente. Mas como usuário não tenho queixas a anotar.

Comentam, na língua do povo, que em Lavras faltam indústrias de grande porte. E que inclusive o parque industrial deve ser melhorado. Na intenção de atrair mais fábricas para este lugar. Mas todos hão de concordar. Existe espaço melhor para se trabalhar do que em nossas universidades? Com mérito Lavras é considerada por todos como a cidade dos ipês e das escolas. Segundo Assis Chateaubriand a nossa cidade é um patrimônio da cultura nacional.

Lavras tem defeitos. Podem enumerá-los.

O asfalto precisa ser recapeado em certos bairros. Buracos existem. Ainda existem pessoas que jogam lixo pelas ruas. O trânsito, dado ao fato de existirem apenas duas ruas principais, as que sobem e descem, complica nas horas de pico. Quem tem o costume de caminhar, pelos passeios, na maior parte das vezes tem de ter paciência. Muitos deles estão em estado lastimável de conservação. Mas não devemos culpar a administração pública. As calçadas são de responsabilidade dos proprietários. E ao poder público só cabe exigir as melhorias.

Existem lotes baldios sujos e desleixados. Logradouros insalubres onde proliferam insetos nocivos. Mais uma vez compete a quem este cuidado? A nós, moradores de Lavras, cidadãos respeitáveis.

Podem dizer que Lavras carece de mais empregos. Que não tem atraído indústrias por falta de estímulo. Seria verdade tal fato? Ou deveras isso acontece por todo país. Reflexo evidente da crise por que passamos.

Podem dizer tudo da minha Lavras querida. Mesmo com seus defeitos, não a troco por nenhuma outra.

Estamos em pleno outono. Logo mais florescem os ipês. O clima da cidade é dos mais amenos. A sua localização geográfica é das mais atraentes. Podem dizer que aqui não gira dinheiro. Mas a vida é de custo baixo. A nossa gente é de fato hospitaleira. E só não estuda quem não quer.

Amo Lavras não como uma madrasta. A ela comparo a minha mãe verdadeira. E ninguém, em juízo perfeito, pode dizer que não ama a sua mãe. Seja ela quem for. Mercê ou não dos seus defeitos.

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