Percebi a presença de Deus

De vez em quando paro na igreja, bem cedo, quando ela está vazia, ajoelho, faço uma breve oração, agradeço, peço pelos meus familiares, pelos que precisam de suas graças, e dali saio mais confortável para começar um novo dia.

Não é de meu costume ir à missa. Talvez nos idos anos, aos domingos, menino ainda, frequentasse a casa de Deus junto aos meus pais. Mas o que mais apreciava era quando o padre dizia: “vão em paz. O senhor os acompanhe”. E debandava em disparada rumo à praça que daqui se avista. A intenção não era outra senão acompanhar as lindas meninas, enfeitadas de lacinhos de fita, que rodavam no rela do jardim.

Infelizmente cresci. Deixei aquela criança ingênua entregue aos seus sonhos de se tornar alguém.

Pena que o tempo passa. E ultrapassa os nossos desejos de mudar o mundo.

Um dia, já quase idoso, meus pais me deixaram. Foi penoso despedir-me deles. Até hoje sinto-lhes a falta. De vez em quando faço uma visita rápida ao campo santo. Paro perto de suas sepulturas, um lugar sagrado para mim, persigno-me diante deles, e dali saio com o coração embargado de emoção. É como se eles dois de novo voltassem a viver.

Ali, naquele lugar entulhado de saudades percebo a presença de Deus. Ele não se faz presente em carne e osso. Mas, algo me diz que Nosso Senhor se manifesta em todas as coisas. Seja no sorriso dos meus netos. Na algaravia dos pardais. No instinto maternal de uma mãe quando embala um filho. Na natureza que se engalana toda depois de uma chuva de verão.

Quase sempre percebo a presença de Deus Pai todas as manhãs. Ao abrir a janela, no sorriso do sol, no frescume do orvalho, no chão molhado pela chuva que caiu durante a madrugada. Durante a noite, antes de dormir, vejo Deus no sono das crianças. Outro dia, quando acordei, dei uma passadinha lépida pelo quarto do meu neto. Quando vi o Theo dormir tive certeza da presença Dele.

De vez em sempre percebo a presença de Deus quando vejo as nuvens deixando ver o azul do céu. Talvez ali seja a morada de Deus. Embora não saiba onde Ele mora deve ser nalgum lugar especial. Rodeado de criaturinhas aladas. Cercado de pessoinhas bondosas. Nomeadas de anjos.

Quando não percebo a presença de Deus por certo estaria perdendo a minha fé. Ela ainda é forte. Alimentada desde cedo. Creio Nele sem saber a razão. Por uma simples questão inexplicável. Acredito numa força superior. Quando a perder certamente estarei perdendo a razão de viver.

Percebo a presença Dele no simples fato de alguém me ditar todas as coisas que me passam pelas ideias. O que seria de mim sem a inspiração que me cavouca a alma. Sem a saúde que ainda me acompanha. Sem a família maravilhosa que me dá suporte.

Creio em Deus simplesmente por acreditar num ser superior. Quem teria criado a terra. Os mares. As nuvens de onde derriça a chuva. Os pássaros que cantam. O sol que nos alumia.

Percebo a presença de Deus todas as manhãs. Durante a escuridão da noite, embora esteja dormindo, ainda creio que Ele exista. Quem iria nos embalar o sono já que nossa mãe não está mais presente? Alguém a substitui. Por certo Ele tomou ao seu encargo com sua presença divina.

Hoje, neste dia lindo, tive certeza da presença de Deus. Foi quando um passarinho avoou perto da minha janela. Era ainda um filhotinho. Aprendendo a voar. Quiçá ele tivesse deixado o ninho instantes antes. Era um voo titubeante, inseguro, trôpego. A mãe passarinha deveria estar preocupada. Onde estaria seu filhote? Talvez ela nunca mais o visse novamente.

Mas Deus com certeza estaria presente. Para orientar aquele passarinho no seu primeiro voo solo.

Agora, neste dia segundo de abril, ao olhar pela janela de onde escrevo, ao ver o lusco fusco do sol, o casario baixo acordar de seu sono madrugão, a casa dos meus pais de janelas fechadas, vazia, não de saudades, mais uma vez não descreio da presença de Deus.

Ele há de me acompanhar sempre. Enquanto em mim a vida persistir. Pena que não seja para sempre. Oxalá, quando não mais estiver por aqui, em outro lugar, especial, encontre o Deus que tanto procuro. Será um prazer inenarrável apertar-lhe a mão, estreitar-lhe nos braços, e pedir a Ele perdão pelos atos praticados contra a sua vontade.

No dia quando não acreditar em Deus, por favor, me deixem partir.  Não terei mais razão de viver.

 

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