Velhice

A partir de certa idade as coisas mudam.

Os cabelos se tornam brancos. A face não mais exibe o viço da mocidade. O andar titubeia. A visão não é tão aguda como outrora. Não se escuta com a mesma acuidade de antes. A memória, na maior parte das vezes, se estende a fatos de outrora.

O velho, que antes cuidava dos filhos, por vezes não tem quem cuida dele. E, o que me surpreende, é que, quando ele mais precisa, é jogado a uma casa de idosos, e passa o tempo todo solitário, contando as horas.

Agora se vive cada vez mais. Antes a idade média que se alcançava não passava dos sessenta anos. Já hoje, graças a um amontoado de fatores, é comum encontrarem-se velhinhos destilando saúde aos mais de noventa.

Sentir-se velho é quando se perde o prazer de viver. É quando não mais desejamos admirar as estrelas no cair da noite. É quando o sono não vem. E os sonhos não mais acontecem.

Estar velho é um estado de espírito. Não pela idade em que estamos. E nem pela mocidade perdida. E sim pelo simples fato de que, ao final da existência, esperamos apenas a visita da morte.

Eu não me sinto velho. Evito pensar em doenças. Como médico recomendo: não façam como eu. Previnam-se contra as enfermidades. Visitem seu doutor de vez em quando. No meu caso, desde quando percebi a juventude se afastando, por não sentir nada, não me lembro de quando procurei a ajuda de um colega. E espero continuar assim mesmo. Até quando?

A velhice chega quando menos se espera. Numa curva do caminho. Numa encruzilhada qualquer. O importante, na minha consideração estulta, é entender que quanto mais se vive mais se aprende. Daí a importância de ler. Se puder escrever, melhor ainda.

Estar velho é inevitável. Faz parte da gente. Um dia fomos meninos. Deixamos as brincadeiras se perderem na distância do tempo. Aposentamo-nos depois de tantos anos de trabalho duro.

Aí, quando se pensa que o descanso vem temos de voltar ao trabalho, do qual nos afastamos, pois os nossos rendimentos não são capazes de nos dar sustento.

Ainda bem que a saúde não se despede da gente. Ela é o bem mais precioso. Maior ainda que uma gorda aposentadoria. Pois o dinheiro não traz a saúde de volta. Talvez nem a remedie.

A velhice um dia chega. Ela não vem a galope como um cavalo em disparada. Ela simplesmente acontece na vida da gente. A trote lento. Compassado.

Inevitavelmente ficamos velhos. E, se eu pudesse atrasar os ponteiros do relógio, fazê-los retrocederem, talvez não o fizesse.

Pois caso assim acontecesse iria contra os desígnios do tempo. Talvez conseguisse apagar os maus momentos. Quiçá pudesse apagar o sofrimento.

No entanto, remando contra as horas, a vida continuando, de hoje em diante, eu caminharia da mesma forma que tenho ido. Sem conseguir retardar o momento da despedida. Isso faz parte da vida. Já me acostumei a esta realidade. Da qual não posso me furtar. Nem que eu queira.

Devemos encarar a realidade do passar dos anos com um sorriso na face. Mesmo que ela seja vincada pelas rugas que nela passarinham.

A velhice não deve ser considerada como um mal que não tem cura. Ela chega. Devagar. De mansinho. Já estou me acostumando a ela. Nem a sinto mais.

Daí a felicidade que ainda me consome. Pois, embora a idade me tome, eu a carrego nos braços, feliz da vida por ainda estar  vivo, mesmo já tendo ultrapassado certa idade a qual dizem ser  de um velho. Cônscio de ainda ser capaz de sonhar. Por muitos e muitos anos mais.

A velhice não me pesa às costas. Sinto-me um menino. Capaz de voar…

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