Pássaros no ninho

Ainda aprecio passarinhos na gaiola.

Principalmente canarinhos amarelinhos, acostumados ao cativeiro, onde praticamente nasceram. Já aqueles cuja morada é a natureza, nada como deixá-los livres, enfeitando as árvores, voando soltos pelos ares.

Hoje tenho um canarinho belga. Apelidei-o de Russinho. Ele, depois que me mudei, passa o dia inteiro na varanda de minha casa. Quando ali morava, a hora do almoço, assistia-o cantar. E como Russinho trinava alegre. Sempre cuidava para que não lhe faltasse nada.

Água fresca, alpiste de qualidade, gaiola sempre limpa, era o que lhe oferecia. E ele me agradecia com aquele canto alegre, quase uma sinfonia.

Russinho nos dias de hoje vive só. Acontece que acabei me mudando para outro ninho. Agora vivo perto de outros passarinhos. Que não cantam como o Russinho. Mas encantam mais, por serem ainda bebezinhos.

Theo, Gael, Dom, são os nomes dos meus primeiros netos.

Os dois primeiros vivem sob meus olhos de avô. Já o Gael enfeita outra gaiola. De vez em quando ele aparece por aqui.

A partir de hoje, vinte e cinco de março, incumbiram-me de cuidar dos dois primeiros. Seus pais vão viajar. Durante poucos dias estarão ausentes.

Theo acorda tarde. Já o Dom já deve estar acordado. O Gael deve estar mamando a esta hora. Esfomeado que sempre está.

Há tempos atrás observei, embevecido, na outra casa onde morava, onde agora vive o Russinho, numa folha de rafia um beija-flor depositar seus ovinhos. Todos os dias olhava cuidadoso para o ninho do beija-flor. Vigiava o ir e vir dos pais como se fosse um deles. Tempos se passaram até que eclodiram dos ovos dois filhotinhos.

De tempos em tempos os pais beija-flores traziam no bico o alimento para os dois filhotes. Até que eles aprenderam a voar. O ninho foi abandonado. Não sei para onde foram os dois beijaflorzinho. Agora eles devem ter formado família. Quiçá sejam avós de outros passarinhos.

Como eu me tornei avô há quase três anos pra cá.

Não tenho como não comparar nossos filhos, netos, descendentes diretos aos pássaros que nascem nos ninhos.

Eles dependem de nós até certa idade. Até que aprendem a voar por si próprios. Aí os filhos dos passarinhos não mais aparecem no ninho. Já os nossos filhotes de vez em quando voltam ao antigo ninho. Em visitas rápidas. Já voando sozinhos.

Ontem, durante a noite, pelo celular do meu filho pude ver meu netinho Gael tentar se comunicar com ele. Era como se fosse um filhote de beija-flor reconhecendo seus pais. Ele tentava murmurar qualquer coisa. Não pedia o alimento.  Mas sim manifestava o contentamento ao ver o pai mesmo à distância.

Tanto o Theo, da mesma forma o Dom, quanto o Gael, ainda filhotes, quando me veem já me reconhecem. Eles todos ainda são dependentes da gente. Um dia irão voar. Livres como os passarinhos.

Até lá felizmente ainda resta um longo caminho. Tomara possa acompanhar seus voos solos. Antes que se desprendam do ninho.

Filhos, netos, são como se fossem pássaros no ninho. Como seus pais, ou avós, a nossa missão é deixá-los voar. Até que isso aconteça não devemos nos afastar.

E com que prazer estou pronto a ajudar. Meus queridos passarinhos.

 

Deixe uma resposta