Inconsequências do carnaval de Zezinho Desprevenido

Em pouco mais de uma semana chegaria a tal festa tão sonhada.

Seria uma semana inteira de feriado, já que Zezinho, rapazola sempre pontual, não perdia um só dia de trabalho, sendo considerado operário modelo naquela indústria de grande porte, onde se amontoavam, em dias normais, mais de dez centenas de operários.

Aos pouco mais de dezoito anos, poder-se-ia dizer virgem de mulher, apenas e tão somente com uma priminha inocente havia se engraçado, mesmo assim nada de mais aconteceu com o jovem casal, deitou-se com ela. Mas, no entanto, dada à pressa que o consumia, acabou ejaculando tão rápido que nem deu pela coisa. Ao acordar do sonho amanheceu todo molhado. Depois constatado que não era esperma. E sim urina fresquinha, com aquele cheiro peculiar a quem urina na calça.

Era segunda-feira, uma semana antes do carnaval. Zezinho teria, de hoje a sete dias, uma semana inteirinha toda sua, para aproveitar os folguedos, pular todos os dias, aproveitando em toda a sua intensidade aquela festa que sempre o agradou, embora poucas vezes tivesse aproveitado, em sua plenitude, a folia momesca.

Preparou, com a ajuda de uma tia, uma linda fantasia de pirata, tapando o olho esquerdo com um tapa olho preto.

Juntou todas as economias guardadas de véspera. Ao todo eram quase quinhentos reais.

E partiu, junto a alguns amigos, em direção à avenida. Ali se amontoava uma multidão de foliões. Todos já embalados pelo álcool, mal se sustentando nas pernas, trôpegos, cantando desvairadamente marchinhas de carnaval.

Zezinho acabou se misturando a multidão. Desacostumado a beber, por influência de amigos da onça, de uma só vez misturou cachaça da ruim com vodca de procedência duvidosa.

Em menos de meia hora o pobre Zezinho mal se aguentava de pé. Naquele primeiro dia os festejos carnavalescos acabaram num leito de hospital.

No dia seguinte Zezinho jurou não repetir a dose. E foi animado a um baile mais comportado, num clube da cidade.

Ali, já alegre por culpa de duas dúzias de cerveja, acabou se engraçando com uma moça de vida fácil. Embora não considero como de vida fácil quem vende o corpo para ganhar alguns trocados.

Seu nome era Gabriela. Tal e qual aquela personagem de um romance de Jorge Amado.

Com ela passou a noite. E acabaram se embebedando.

Entusiasmado pela conquista fácil foram ambos a um motel. Mal sabendo quem era ele, ou quem seria ela. Apenas Gabriela.

Acordaram desnudos. Sem saber do acontecido. Na boca Zezinho trazia o sabor amargo de uma ressaca mal curtida.

Levantaram-se num ímpeto. Mal tomaram uma chuveirada e já partiram em direção a outra folia. Sem saber as consequências daquele ato tresloucado o alegre casal, como se fossem namoradinhos em lua de mel, recomeçaram a bebedeira noutra mesa de bar.

Mal chegou a noite Zezinho e Gabriela já nem sabiam se era dia ou  a noite chegara.

De tão ébrios que estavam.

Desta feita acabaram dormindo na rua. Ao se levantarem,  parcialmente refeitos da cachaçada do dia, Zezinho percebeu que faltava alguma coisa no bolso de trás de sua calça. Alguém, impossível saber quem fora, afanara-lhe a carteira, com todo o seu conteúdo. Não sobraram nem lembranças de quanto Zezinho possuía.

Mesmo assim ambos voltaram à folia. Desta feita de cara lavada. Prometendo nada beber, que não fosse água.

Mas, quem resiste a um convite de um amigo? Zezinho e a infeliz Gabriela, sem cheiro de cravo e canela, mais uma vez retrocederam no crime.

Beberam tudo que não tinham direito. Mais uma vez, ao fim da folia, acabaram dormindo na sarjeta.

Quatro dias  se  passaram. O carnaval de Zezinho e Gabriela nem dava sinal de terminar.

Não refeitos do susto, de todas as desventuras passadas juntos, eis que chega a quarta-feira de cinzas.

Zezinho e a prestimosa Gabi, terminaram o carnaval sentindo no hálito etílico todo o dissabor da festança.

Foram presos por vadiagem. E para piorar a efeméride atribuíram a eles uma culpa que não lhes cabia.

Na terça-feira, derradeiro dia de carnaval, aconteceu um assalto a uma joalheria. E tanto Zezinho como a infeliz Grabriela estavam justamente no cenário do crime.

Passaram dois dias em cana. Foram soltos graças ao depoimento de uma testemunha.

Uma vez na rua, dir-se-ia da amargura, Zezinho Desprevenido e sua parceira perceberam, uma vez sóbrios, a besteira que haviam feito.

Mas era tarde para remediar.

Um mês depois, já separados pela vida, Zezinho e Gabriela foram diagnosticados de sífilis, gonorreia, e ainda por cima, como se não bastasse tamanha desdita, encontraram naqueles jovenzinhos inconsequentes o vírus do HIV.

Até hoje não sei qual o destino dos dois. Tomara terminado bem. Daí a minha recomendação, como médico afeito às doenças do sexo, nada como se precaver.

O carnaval é uma festa surreal. Mas sem deixar a realidade de lado. A consequências funestas do sexo desprotegido acontecem. Quase sempre.  Por isso nada como prevenir. Bem melhor que remediar.

Deixe uma resposta