De repente fez-se o sol

Dias nublados não eram definitivamente do agrado daquele meninozinho tristonho.

Ele perdera o pai ainda na primeira infância. A mãe, desolada, logo acompanhou o marido, deixando o filho único sendo criado pela avó.

Chiquinho morava num povoado distante da cidade. Era um amontoado de casinhas modestas, onde viviam sem ter o que fazer algumas pessoas a maior parte delas aposentada.

Poucas crianças ali moravam. Chiquinho quase não tinha com quem brincar.

Para ir à escola, que não existia naquele lugarejo, um dos incontáveis distritos mineiros, precisava acordar antes do cantar do galo.

A espera pela condução, que de vez em quando não vinha à hora combinada, era avidamente aguardada pelo Chiquinho. Pacienciosamente, de mochila às costas, merenda preparada de véspera pela avó, permanecia no ponto horas vazias.

E com que satisfação ia à escola. No terceiro ano do curso primário era considerado aluno acima da média. Tirava notas razoáveis, principalmente em português, mas não era de se jogar no lixo as das outras matérias.

Chiquinho era considerado um menino tristonho. Sempre de olhos baixos, evitava se entrosar com outros colegas.

Na hora do recreio permanecia a um canto. Diziam que ele conversava com ele mesmo.

Assim passava a vida.

Naquele verão calorento sempre chovia pela manhã. Quando acordava, assim que o relógio assinalava cinco horas exatas, Chiquinho se punha de pé.

Naquela casinha pequenina moravam apenas Chiquinho e sua avozinha.

Já bem andada em anos dona Marieta amava o neto. Por ele tinha o maior carinho. Afinal eram apenas eles e ninguém mais.

Passaram-se anos. Meses sucederam-se a eles mesmos.

Chiquinho, tido como triste, acabrunhado, era considerado por todos que o conheciam uma criança com necessidades especiais.

Na linguagem médica poder-se-ia dizer que Chiquinho padecia de depressão. Um diagnóstico que lhe foi dado desde tempos passados pela primeira professora. Que amava o menino triste. Sempre isolado dos coleguinhas. Sempre de farol baixo. Olhinhos tristonhos eram sua marca registrada.

Nos dias nublados a situação piorava. Em dias assim Chiquinho permanecia em seu quartinho pequeno, sempre de janelas fechadas. E nem a escola ia.

Eis que a chuva foi embora. Por um milagre fez-se o sol.

Chiquinho, naquela época, completou doze anos. Foi quando as coisas começaram a melhorar.

Com o sol brilhando no alto, com as nuvens cinzentas se despedindo, Chiquinho acordou, naquele dia, com outro semblante a iluminar-lhe o rostinho sempre tristonho.

Levantou-se num ímpeto. Tomou um banho reconfortante. E foi a escola bastante mudado. Inclusive a professora estranhou a sua metamorfose.

Com os colegas, naquele dia quando o sol se fez brilhante, Chiquinho tomou parte em todas as brincadeiras do dia. Virou outra pessoa. Quem o conhecia tempos antes nem conseguia acreditar na transformação que tomou conta do tristonho menino.

Ao chegar a casa, quase noite, Chiquinho nunca mais perdeu o sono. A alegria voltou a brilhar naqueles olhinhos tristes.

Na manhã seguinte novamente o sol se fez presente. Chiquinho abriu a janela, feliz da vida, e voltou à escola deixando pra trás aquele menino de olhos baços.

A depressão se faz presente em cada um de nós. A solução independe de medicamentos. E só depende da gente. Experimente abrir a janela do seu coração. Deixe o sol entrar. Ele não apenas ilumina o nosso interior. Como também permite que deixemos os dissabores de lado.

Chiquinho, como outras pessoas, como eu, como vocês, depende de dias iluminados para sorrir de novo. Nada como sorrir para criar vida nova. Só assim deixaremos o sol entrar em nossa alma. Desencantada com a escuridão.

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