Que bom seria…

Que dia lindo amanheceu nesta segunda-feira, onze de fevereiro. Nem tão quente quanto nos dias que o antecederam. Fresco no ponto exato. Mais tarde, no decorrer do dia, deve esquentar.

Agora são exatamente seis e trinta da manhã. Semana nova a ter início.

Choveu durante a noite. Nem percebi a chuva cair. Apenas indícios de chão molhado. O asfalto mostra pocinhas d’água, ainda húmido, não encharcado como aconteceu naquela cidade linda, quando pessoas perderam a vida durante as enchentes, há alguns dias apenas.

Agora o sol se mostra por entre as nuvens. O horizonte parece uma pintura. No casario baixo luzes ainda estão acesas. Pois a escuridão ainda domina parte da cidade. Logo elas deverão ser apagadas.

Do lado de fora da minha janela percebo, a mão esquerda, a rua onde cresci. A casa onde vivi permanece de janelas cerradas. A Rosinha ainda dorme. Já o velho hospital não tem o direito de fechar as portas. Já que as enfermidades não têm tempo e hora de descansar.

A mão direita outro hospital está prestes a virar escombros. Sua metade em pouco tempo cede lugar a outra edificação. A velha Santa Casa logo vai se transformar por completo. O antigo pavilhão, já em ruínas, vai dar abrigo a pacientes portadores de câncer. Tomara ele cumpra com dignidade seu papel na comunidade da nossa querida Lavras. Pois pra isso ele foi construído, pertinho da igreja matriz, sua vizinha.

Neste começo de semana estive pensando nos acontecimentos trágicos por que passou o nosso querido país. Quantas tragédias nos enlutaram. Quantos acontecimentos funestos temos passado.

Que bom seria se nosso país não sofresse tanto. Se tantos inocentes não perdessem a vida tragicamente. Se os responsáveis fossem capazes de prevenir tantas efemérides tristes, ao invés de visar apenas o lucro das empresas mineradoras. Se aquela lama toda fosse impedida de ceifar vidas. Se as barragens fossem de fato seguras. Não apenas uma barreira fictícia no caminho dos rejeitos de minério.

Como seria bom se todos aqueles jovens atletas morassem em locais seguros. Não em arremedos de moradia. Esperando um dia serem jogadores de futebol. Gente pobre, que apenas incorreu no logro de um dia se tornarem famosos, permitindo às famílias enlutadas viverem dignamente como pessoas normais.

Como seria aprazível se em nosso malfadado Brasil não houvesse tanta corrupção. Tantas verbas desviadas do seu correto destino. Caso a saúde fosse em verdade um direito do cidadão. Não apenas uma lei que só existe no papel.

Que bom seria bom se todas as crianças do país tivessem iguais oportunidades. E não fossem abandonas pelas ruas como cães vadios. Como seria prazeroso não termos de caminhar pelas ruas assistindo à desgraça de nossos iguais. Que têm de esmolar para ganhar alguns trocados.

Como seria quase perfeito podermos viver num país mais fraterno. Onde a solidariedade existe em verdade. Em qualquer camada da sociedade. Bem sei que nas mais humildes ela se manifesta, vide o noticiário das catástrofes.

Que bom seria se, neste país continental, todos tivesse onde morar. E não vivessem em áreas de risco, sob a pena de um dia serem soterrados por montanhas de lama, que caem depois de tempestades.

Como seria perfeito, quase uma utopia, se em nosso Brasil não existissem tantos desempregados. Vivendo a margem da sociedade, fazendo malabares nos semáforos, quantos jovens fazem isso para sobreviver.

Que bom seria se aqui, neste cenário de sonho, onde quase não existem catástrofes naturais, terremotos, nevascas, furacões, intempéries exageradas, se quem nos governa não fossem os verdadeiros irresponsáveis por tanta desigualdade que viceja entre nós.

Como seria perfeito se o sol brilhasse para todos, indistintamente. Se a riqueza não fosse concentrada nas mãos de uma minoria esmagadora. Apenas alguns abastados detém quase a totalidade da riqueza do país.

Que bom seria se todas as crianças tivesse a educação que merecem. E não tivessem de aguardar vagas nas escolas mal distribuídas por todo o território nacional.

Como seria confortável se todos tivessem a mesma chance de morar em habitações condizentes com a sua vontade. E não precisassem engrossar as fileiras de palafitas em situação de penúria, em locais insalubres, a margem da sociedade. Os endinheirados que vivem na orla, olhando o mar em suas coberturas, afrontam a dignidade do ser humano.

Que bom seria se todos tivéssemos a inocência das crianças, e não pensássemos apenas em nos darmos bem, à custa do prejuízo de terceiros.

Como seria perfeito se a gente, dentro da nossa vivência, tivéssemos mais respeito aos idosos, pois todos chegaremos lá, mais cedo ou mais tarde.

São tantas atitudes singelas, tantas coisinhas pequenas, se, cada um fizesse a sua parte, quem sabe, num futuro perto, tantas calamidades não seriam noticiadas. Tantas mortes evitadas.

E o nosso país seria de fato um lugar ideal para se viver.

Como seria bom se isso acontecesse.

Só depende de nós. Oxalá, num futuro que não se distancia tanto, deixaremos um país melhor para nossos filhos e netos.

 

 

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