Fez-se sol. Mas ainda chove dentro de mim

Penso ser dependente dos raios de sol. O cinza me consome. Dias nublados, quando a chuva se mostra, entorpece-me o âmago. Nada contra os pingos que despencam do alto. Como eles fazem bem aos ares do campo… Mas, aqui na cidade, já que não posso viver na roça, ali não tenho como tirar meu sustento, nada como um dia que amanheceu no dia de hoje, sete de fevereiro, quarta-feira risonha, com seu céu se tintando de azul, algumas nuvens claras lhe fazem companhia, são nuvens não cinzas, nada indica, pelo menos agora, que mais tarde chove.

Choveu a cântaros durante grande parte da noite. Não assisti ao desfilar dos pingos que se deitaram no asfalto, tornando-o mais negro. Da negritude da noite escura. Como asas de morcegos.

Antes das seis da manhã já estava de pé. Acordo cedo. Com as galinhas. Como o retireiro madrugão. Como o padeiro insone.

Ontem choveu bastante. Tudo estava cinza ao derredor de mim.

Uma estranha sensação de desconforto brotava em minhalma. Que se fez triste. Levemente acabrunhada. Nada havia para me deixar assim.

Embora o consultório ainda se mostre vazio. As consultas esperam a folia de o carnaval passar para se agendarem. Poucos consultantes pelo meu prédio de clínicas sobem ou descem pelo elevador. O dinheiro ainda não acordou do seu sono poupador.

E eu, graças à graça de apreciar escrever, passo aqui manhãs, parte das tardes, dedilhando os teclados negros dos meus dois computadores. Ah!, não fosse a lúdica inspiração que me cavouca. Não sei o que seria de mim. Talvez mais ainda tristonho. Acabrunhado, infeliz.

Tristeza não se explica. Da mesma forma que felicidade traz dentro dela sua rubrica.

Dias existem que uma melancolia inexplicável toma conta do meu eu. Todo sensibilidade maiúscula. Essa maldita sensibilidade que me atordoa talvez explique estes momentos ups e downs em que me encontro. Dentro da bipolaridade que brota em meu cerne. Sujeito às intempéries do tempo. A chuva que derriça do alto. A presença das nuvens cinzentas que do céu mugem. Com a mesma tristeza que muge a vaca ao deixar seu bezerrinho recém-nato no curral após a ordenha da manhã.

Ontem choveu um bom bocado. O céu não sorriu azul e amarelo como hoje aconteceu. O cinza prevaleceu não apenas no alto. Como cinzento fiquei por dentro.

Pessoas amigas me confidenciaram, ontem, na academia onde frequento, que me sentiram diferente dos outros dias. Não tinha o sorriso aberto na face crispada pelo desalento. Nem enviei as boas tardes costumeiras. Nem ao menos buli com todos, mesmo fossem desconhecidos. Passei aquelas horas todas a correr na esteira. Com meus fones de ouvido ligados.

Nem reparei na linda moça que sorria ao meu lado. Ela se foi minutos depois, e nem retribui ao seu até logo.

Já o hoje amanheceu diferente. O azul do céu se enseja orgulhoso do dia de hoje. Creio que a chuva vai sumir dos ares limpos da manhã de agora.

Embora lá fora se faça sol, não sei bem a razão do que me passa por dentro neste exato momento.

Do lado de fora da minha janela sorri a amarelice do sol. Mas dentro de mim chove. O cinza se mostra em seus distintos matizes. Não lá fora. Não com os mesmos tons sobretons que exibe a cor verde. Embora seja esta quarta-feira um dia resplandecente em claridade, tudo em mim exibe a cinzentice da tristeza inexplicável. Sou assim. Talvez um dia consiga mudar. S

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