A estranha moça do sorriso verde

Já vi sorrisos de todas as cores. Posso até imaginar que o arco Iris sorri em amarelo, lilás, verde, um marrom que só existe em minhas idéias maiúsculas. Mas em se tratando de uma pessoa rindo verde, da cor das matas, da pastaria depois de uma chuva mansa, dos tons sur tons que o verde trás, podem vocês pensar que a doença de Alzheimer me veio buscar.

Ainda bem que a lucidez ainda está assentada na mesma cadeira macia defronte ao meu computador sofredor. Embora saiba, de antemão, que o limite entre a sanidade e a louquice é da mesma espessura minúscula de um fio de cabelo meu.

Foi agorinha mesma que a vi no mesmo elevador. Bem aqui perto, do meu sétimo andar.

Estou num resort lindo. Da minha janela avisto as águas azuis da piscina e uma nesga do mar caribenho. Nuvens brancas entremeiam o azul azul do céu. Uma delas, aquela que me olha do lado esquerdo, se tinta em cinza plúmbeo. Parece que dela uma chuva breve despencará mais tardiamente. As torres do hotel são altas. Bem mais que o casario baixo mais adiante.

Um campo verde se mostra entre o casario baixo, as casas distantes, e onde estou a escrever.

Faz um ou dez minutos que desci de elevador.

Junto a mim ia um casal.

Jovens, bem jovens ainda. Eram morenos trigueiros. Não como os brasileiros indígenas. De cabelos alourados, decerto tintos. Ela era linda como uma palmeira imperial. Não tanto alta ao exagero. Não tão baixo ao mesmo tamanho de uma anã.

O rapaz, do mesmo tamanho, ou quase, usava cabelos em rabo de cavalo longo. Imaginá-lo-ia, caso fossem soltos seus pelos, a ponta do cabelo iria ao chão.

Não de momento identifiquei-lhes de onde eram. Foi preciso apurar o ouvido para depreender que eram de sotaque anglo saxônico. Americanos do norte? Talvez mais ao norte. Foi a linda moça morena que me tirou a pulga atrás da orelha. Eram canadenses, de Montreal. Simpáticos, jovens, enamorados. Num francês macarrônico continuamos a prosa até mais abaixo. Foi nas letras LL (lobby) que nos desunimos.

Assim que ambos foram a praia fiquei imaginando coisas e loisas.

O verde não me saía da cabeça. Tudo era verde no meu encanto. Não havia desencanto naquela hora depois do almoço.

O amplo gramado era verde. As palmeiras imperiais da mesma cor. Um vento agradável bulia com suas folhas. Meu chapéu branco por várias vezes me deixou a descoberto. Até as iguanas que andavam soltas no jardim tinham parte do corpo em verde.

Inclusive minhalma se tornou verde.

Ao me lembrar do lindo casal com o qual dividi o elevador, ao relembrar a alvura dos dentes da linda moça, assim que me despedi deles dois, voltando pelo mesmo jardim, uma iguana linda olhou pra mim. E me mostrou os dentes verdes.

Quem sabe se a linda moça e a verde iguana não seriam a mesma pessoa?

A moça tinha, na minha concepção, dentes verdes. A iguana era verde. O gramado, verde. As palmeiras que se deixavam oscilar as folhas eram verdes.

De fato. Assim que virei as costas tudo ao redor se fez verde. A iguana, a grama, o sorriso da linda moça. Inclusive minhalma enverdeceu de repente.

 

 

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