A cidade chora

A chuva mostra os pingos nesse começo de dezembro.

Chove de mansinho, devagarinho, sem causar maiores danos a gente da cidade.

Pelo menos aqui, na nossa Lavras amada, a chuva não tem causando tantos atropelos.

O comércio espera, de portas abertas, que as compras se intensifiquem nesse dezembro quase ao meio. E a chuva, no meu entender, é como lágrimas derramadas bem do alto.  Um chorinho gostoso que faz regozijar o homem do campo. Já que ele já plantou depois de semear as sementinhas de milho que já mostram a carinha verde. Na terra molhada recém preparada para o plantio. A espera de boa safra meses depois.

No dia de ontem percebi minha querida cidade derramar lágrimas sentidas. Era um chorinho manso nada perturbador. O céu de repente se acinzentou. Mal se viam nuvens nem o brilho ofuscante do sol.

No meio da manhã, quando deixava a minha oficina de trabalho de volta ao meu apartamento. Fui surpreendido com uma noticia na qual não acreditei. Usei meu celular para comprovar a veracidade da má nova. Meus colegas de especialidade não me atenderam. Deveriam estar ocupados com algum paciente no bloco cirúrgico. Consultei outras fontes. A noticia era verdadeira.

Esse colega, o qual considero amigo, que com a gente labuta desde anos antigos. Foi o segundo na nossa especialidade que aqui chegou. Passei mais de vinte anos trabalhando sozinho. Felizmente, em boa hora ele aqui desarrumou as malas. Veio disposto trazendo novos conhecimentos na urologia. Quase não tive o prazer de trabalharmos juntos. Naqueles idos anos cada esculápio tinha de optar por um ou outro hospital. Ele ficou no Vaz monteiro. Eu me decidi pela Santa Casa.

Bem conhecia a sua capacidade de fazer amigos. Sempre afável e gentil doutor Sebastião nunca se recusou a um aperto de mãos. Em alguns anos apenas foi picado pela mosquinha da política. Elegeu-se edil por oito mandatos. Pessoa de bem em muito se dedicou a nova carreira. Fez mais do que podia pela cidade que não era sua. Já que meu colega veio das barrancas do velho Chico. Numa cidade pertinho de Montes Claros, de nome São Francisco.

Ele e eu tínhamos quase a mesma idade. Diferimos em apenas quatro anos.

Sempre nos encontrávamos no meio da tarde. Ali, pertinho do Vaz Monteiro ouvia sua voz em altos decibéis: “Paulo, andas sumido. Tens algum novo livro para editar? Tenho todos os seus. Vê se aparece para prosearmos.”

E como ele era bom de prosa. Falava alto. Não se furtava a um bom abraço.

Hoje a cidade chora. Pranteia seu querido médico e vereador. Ele deixa saudades da sua enorme generosidade e desprendimento. Não apenas dos pacientes que ele ajudou a restabelecer como dos colegas que tiveram a ventura de conhecê-lo.

E eu choro junto, dos momentos que passamos unidos pela urologia. Dos inúmeros congressos da especialidade. Das risadas que escutei da sua boca falante.

Doutor Sebastião dos Santos Vieira. Ilustre personagem de um livro que ainda não escrevi. Receba o meu pranto amigo. E minha singela homenagem que deixo escrita agora nesse momento de dor genuína.

A cidade de lavras, que não é somente minha é mais do que tua. Cultua a sua despedida na certeza que você, doutor Sebastião não morreu. E continua encantando a todos que tiveram o prazer de tê-lo como amigo.

 

 

 

 

 

 

 

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