Eu e meu inseparável companheiro

Entre amigo e companheiro um fosso abissal os separa.

Amigo é aquele ligado ao outro por laços de amizade. Ou aquele que nutre admiração por alguém. Qual seja apreciador, amante. Dá no mesmo que ser adepto, aliado e até mesmo companheiro.

Já companheiro quer dizer aquele que o acompanha. Quem participa das mesmas ocupações. Pode também ser um associado. Um aliado ou comparsa como também partícipe da mesma confraria.

Já tive amigos na infância. Muitos não mais estão por aqui.

Como também companheiros com os quais reparti nas minhas andanças pela especialidade médica que abracei. Foram colegas associados em uma clinica de saudosas lembranças de nome UROLITO. A qual resistiu estoicamente até anos atrás. E nossa sociedade foi desfeita não nossa amizade que até hoje perdura. Espero que até mais adiante. Enquanto um sopro de vida continuar a nos bafejar por muitos anos mais.

Amigos de verdade tenho poucos. Mas os que tenho são mais que suficientes. Eles sim posso chamá-los de amigos. Pois bem sei se deles precisar eles não se furtam a me ajudar nem se esquivam de me oferecer seus ombros onde possa me apoiar quando minhas pernas claudicarem e se recusarem a ir adiante.

Já companheiros, no sentido lato, aliados, associados, não pretendo tê-los de hoje em diante.

Já que se passaram tantos anos quando aqui cheguei. Acostumado a operar comigo mesmo. Não me lembro de quando tive a ajuda de um colega no campo cirúrgico. Salvo algum enfermeiro por mim treinado. Já abdiquei da companhia de tanta gente boa. Não seria nos tempos de agora que irei precisar de alguém para repartir minha solidão.

Esse companheiro que me acompanha agora não fala e apenas mostra as horas. Ele só de desgruda de mim à hora do banho. Nado com ele. Corro quando as pernas pedem. Na hora de dormir permito a ele um descanso. Ele merece. De vez em quando sua cara desaparece. Vai ser preciso ligá-lo à tomada para recarregar sua bateria. Também ele não é de ferro.

Já faz, creio que mais de vinte anos, que o comprei numa loja na velha Europa. Foi em Portugal que o escolhi como companheiro. Não posso dizer do mesmo que ele é um amigo. Pois ele não fala nem diz ser um deles.

Agora mesmo, ao olhar para sua carinha iluminada. Seu mostrador indica 6 horas e vinte e dois minutos. Em um minuto apenas ele me indica que mais um minuto se passou.

Esse companheiro de todas as horas não me deixa acordar tarde. Ele não dorme. Sua carinha de sono ilumina meu quarto de dormir.

Meu companheirinho não fala nem me contradiz. Como amigos de verdade que não me deixam mentir.

Esse companheiro das horas fica o dia inteiro grudado ao meu pulso esquerdo. Ele tem um caso de amor com meu celular. Ambos têm múltiplas funções. E eu desconheço undécimo de tudo que eles dois sabem fazer.

Mas não vivo sem eles dois. Meus companheiros que tenho ao meu lado. Desde quando acordo ao adormecer.

Meu relógio de pulso dele não abro mão. Ele fica pertinho da minha mão. E não apenas diz as horas como também exibe incontáveis funções.

Eu e meu inseparável companheiro é mais que um amigo. Com uma vantagem sobre falsos amigos. Ele não fala mal de mim pra ninguém. Nem bem; nem mal.

Deixe uma resposta