A moça que comia com os olhos

Que eu saiba se come usando dentes perfilados dentro da boca.

Quando não os têm pode-se lançar mão de uma bem colocada dentadura.

Tenha o cuidado de não expeli-la ao tossir. Use um adesivo recomendado pelos dentistas de nome Corega. Se não é esse o nome informe-se com o profissional que cuida dos dentes. E não reclame à hora de assentar-se àquela cadeira pouco confortável e não poder responder se dói ou não quando ele pergunta se está tudo bem. Mesmo que não esteja responda com um aceno de mão que sim. Se não…

Anos passados, em visita de turista viajão ao nosso paizinho d’além mar. Onde falam a nossa língua pátria com mais acertos que do lado de cá do Atlântico.

Passando pelo Santuário de Fátima. Em visita àquelas lojinhas simpáticas onde se vendem souvenirs (objetos que são como lembranças do lugar visitado). Souvenir vem do francês-memórias.

Tive a grata surpresa de – assim que admirava os badulaques, numa lojinha bem simplesinha.  O dono me perguntou se eu estava “a dar de comer aos olhos”.

Nada mais inspirador, a quem se alardeia escritor, que ouvir tal expressão. Dar de comer aos olhos soou-me como música de boa qualidade aos meus ouvidos escutadores. E acabei dando de comer ao meu bolso um lindo terço com a imagem da santinha de Nossa Senhora de Fátima que até hoje guardo comigo.

Estamos em tempos de dietas ditas emagrecedoras.

Avizinha-se o verão. Embora as temperaturas elevadas já indiquem que já estamos antecipadamente nessa estação.

E tome sol! Que calorão!

As piscinas estão cheias de banhistas. As represas de águas plácidas e mornas são um convite irrecusável a um bom banho.  Cuidado redobrado aos que não sabem nadar.

Academias, não as de letras, transbordam pelas portas.

Corpos desbarrigados são vistos malhando aqui e acolá. De vez em quando uma barriguinha obtusa é vista carecendo de um bom regime. Personais bem formados e informados são requisitados a toda hora.

Aquela não mais mocinha. Quase uma garotinha no alto dos seus muitos anos. Dir-se-ia quase setentenária.

Foi vista num atacarejo lotado no dia de ontem.

Ela ia por entre as gôndolas, não as de Veneza, admirando os produtos expostos nas prateleiras.

E não comprava nadica de nada.

Apenas olhava.

Parava aqui. Nas bancas de verduras. As de produtos dietéticos. O que mais pesquisava eram as mercadorias ditas lights diets.

Aquelas que prometiam emagrecimento fácil e de baixo custo.

Não tive como não parar junto dela. Ofereci-lhe meus préstimos de médico embora não fosse especialista em dietas.

“A senhora precisa de algum conselho? Deseja comprar algo em especial”?

A moçoila, não mais tão mocinha, pelos meus cálculos ela deveria ter quase a minha idade.

Olhou-me de banda e me disse a queima d’olhos.

“Não. Muito grata. Estou apenas dando de comer aos meus olhos”.

A mim me pareceu que sua dieta estava dando certo.

Ela ia bem magrinha por entre as gôndolas daquele supermercado.

 

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