Natal sem cor

Por vezes me perguntava. Em criança ainda: “qual a cor do natal”?

A resposta não a tinha de pronto.

Pensava. Repensava. De imediato não podia responder.

Mas, ao se avizinhar aquela noite mágica, pensando na linda árvore montada na sala de visita. Na semana passada. Naquele lindo pinheirinho verdinho presente do meu avozinho. Com sua cor verde mata. Todo enfeitado de bolinhas multicores – amarelas, vermelhas, preponderantemente azuis. Logo me vinha à cabeça que a cor do natal seria uma mistura de todas as cores. Não umazinha só.

Mas pena que a gente cresce. Espichamos além da altura daquela arvorezinha toda enfeitada preparada com todo esmero por minha querida mãe.

E os natais vão passando. E a gente ia desembrulhando aqueles pacotes coloridos. Cada um com nosso nome escrito. E eu mal dormia naquela noite de véspera. Ansioso por descobrir qual regalo seria o meu.

Os natais foram sucedendo. E a gente crescendo mais e mais.

Nos dias de agora os papais noéis mudaram de endereço. Eles não vêem mais do distante pólo norte. Viajando em trenós alados puxados por renas de longos chifres. E não entram mais pelas chaminés. Pois nossas casas não exibem mais respiradouros por onde a fumaça dos fogões a lenha crepitam nas noites frias.

Agora meus natais se tornaram vazios. Meus pais deixaram de existir.

Aquela bicicletinha de rodinhas amarelas passou a ser mera lembrança de um passado que ainda resiste a ser apagado dentro de mim.  Aquele brinquedo que ganhei num natal passado se tornou mais uma recordação da minha infância. Meus cinco anos não voltam mais.

O natal que se avizinha perdeu a cor. Aquele lindo pinheirinho se transformou numa árvore sem graça feita de plástico verde mata. E aquelas bolas multicores se quebraram todas. Agora são apenas cacos espalhados pela sala de visita.

Ai que saudade dos natais da minha infância. Podem dizer que meus netos me remetem àqueles saudosos dias.

Mas, a cada natal que passa, faltam pessoas ao derredor da mesa.

Na cabeceira está ausente a figura do meu pai. Ao meu lado sinto falta de minha querida mãe.

A cor dos natais de agora mudou de cor. As bolas multicoloridas viraram cacos. Meu coração da mesma maneira encheu-se de dor. São tantas perdas que nem conto nos dedos quantas são.

Se me perguntarem qual a cor do verdadeiro natal não sei responder.

Vendo tantas pessoas ao desabrigo. Tantos pedintes de mãos estendidas. Tanta miséria ao derredor. E eu não posso distribuir presentes a quem precisa.

Lembrando-me dos natais passados. Das festas em família. Daqueles pacotes que ia desembrulhando. Um a um. Daquele lindo pinheirinho verdinho enfeitado caprichosamente por minha mãezinha.

Agora, descrente de um Papai Noel de barbas nevadas que fazia um “oh oh” estrepitosamente.

Não me restam senão lembranças daqueles natais passados.

Que pra mim perderam a cor.

 

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