Juquinha Calipígio

Quando, pela primeira vez descobri essa palavra, a qual deu o segundo nome ao Juquinha, pensei ser seus significados tudo isso: uma espécie de planta carnívora, um arbusto recém florido, um tipo de passarinho canoro, uma orquídea das mais raras e lindas, algo parecido a alecrim ou flor de assa peixe, algum tipo de instrumento usando em jardinagem e por aí afora fora os aforismos.

Concordam comigo que calipígio soa esquisito aos nossos ouvidos. Mais parecido a um zumbido mouco de abelhas avoando ao derredor da colmeia defendendo seu mel de cada dia.

Mas, por azar ou não sei se por sorte, o pai do garoto Juca, na noite em que ele nasceu, pasmem! Faltou luz na maternidade. E o parto do garoto teve de ser feito à luz de velas. Como um belo jantar servido entre ele e sua amada amante.

E, pior ainda, no dia quando o garoto Juquinha foi batizado faltou tinta na caneta tinteiro do homem do cartório. E ele acabou pedindo emprestada a caneta bic com uma miséria de tinta a ser usada. E a tinta acabou no momento exato quando era pra ser escrito o nome do garotinho. Mesmo assim Juquinha foi crismado e cresceu mais pro lado de trás.

E que nádegas perfeitas exibia o menino. De formas arredondadas e roliças. Duas maçãs proeminentes pareciam abóboras maduras de tão perfeitas que eram.

Quem olhasse aquela bundinha mais que perfeita pensaria logo ter sido feita a poder de compasso guiado pelas mãos habilidosas de um projetista inspirado. A qual um arquiteto, a exemplo cito Oscar Niemayer, o criador das formas magníficas de nossa capital federal, com seus traços curvilíneos mais que perfeitos que resistem não só ao tempo bem como as podriqueiras fedorentas que emergem de Brasília.

Mas, fora a sua bunda linda e macia nada mais era bonito na figura inexpressiva do garoto Juquinha. Era baixote e obesinho. Seus olhos eram parcialmente fechados por pálpebras bisonhas. Que pareciam querer voar para fora daquele corpicho feioso como urubu ao nascer.

E, além de feio era fanho. Quem o visse falar pensaria logo que ele tinha as narinas entupidas e algo que o fazia engasgar como se tivesse um ossinho de galinha preso em sua goela.

De fato retrato. Juquinha nasceu com a amígdalas crescidas e as adenoides tais e quais peras pequeninas e apodrecidas. E seu piu piu encoberto por uma pelinha a qual os urologistas chamam de fimose irredutível. As quais carecem urgentemente serem operadas antes que o mal cresça.

Mesmo com todos esses apetrechos postos em discussão o garoto cresceu sentindo na pele todas as inconveniências do bullying. Na escola era chamado de bundudo e descabelado. Ele não penteava os ralos cabelos por tê-los como buchas de limpar privadas mais cascorentas que casco de tartaruga.

Mas ele não era mau aluno. Até que tirava notas acima da medida de sua sala de aula.

“Dava pra passar.” Dizia ele com sua vozinha fanha.

Numa tarde de segunda, aula finita, Juquinha, em companhia de sua professora de português, era uma dama da noite pois ela amava como poucas as baladas.

E foram os dois a um bar. Bem na rua de trás de sua escola.

A tal mestra ao Juquinha lançava olhares gulosos, principalmente ao seu traseiro redondo e macio. E como aquela balzaquiana amava levar os garotos a sua casa a fim de seduzi-los. E por vezes conseguia. Vez por outra era processado por assédio sexual.

Foi nesse interregno que a professora do garoto. Ao vê-lo desnudo. Depois de prometer pagar pelo ato obsceno a importância de duzentos reais. Ao olhar a sua bela bunda exclamou, exultante: “belo calipígio Juquinha”.

E foi desde antão que o menino Juca passou a ter como sobre essa palavra horrorosa- Calipígio.

 

 

 

 

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