Não quero me tornar apenas um porta-sacolas

“Tive vergonha de mim próprio quando percebi que a vida é uma festa de máscaras e eu participei com minha própria cara.”

Ou: “não peça permissão para voar. As asas são suas e o céu não é de ninguém”.

E indo mais adiante: “eu fiz um acordo com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Qualquer dia a gente se encontra. E, dessa forma vou vivendo intensamente a cada momento”.

E tenha a coragem de estar errado mesmo quando o mundo inteiro pensa estar certo.

E o mais acertado diz: “até um peixe evita problemas se mantiver a boca fechada.”

Envelhecer é consequência inevitável tanto do nascer, crescer, adultecer (mais um neologismo meu), deixar os anos montarem em nós, e, quando eu não mais puder decidir qual o rumo de minha existência por favor, que me alijem de dentro de mim.

Velhos, ah! A ser chamado velho caduco prefiro que me chamem de tiozão artioso ou peralta como meus netinhos sapecas.

Velho é qualquer cousa ou loisa que não dá remendo muito menos meia sola. E a ele só lhe espera o lixo. Coisa de se jogar fora.

Mas, pena que os jovens, que os idosos já foram, desconsideram-nos as cãs, os sulcos que nos passarinham a face. O andar trôpego e arrastado. A cor nevada da barba que tanto engorda a conta bancária dos papais noéis em dias de natal.

E eles consideram os de idade provecta cartas fora do baralho. Mal sabem eles a importância de se guardar na manga um quatro de paus ou um sete de ouros para vencer os opositores numa rodada de truco.

Velho pra mim soa como um sino repicando a hora do Ângelus. Ou até mesmo a  bela Ave Maria de Guinou.

No entanto, nos entretantos desencantos da vida somos intimados a assoprar mais de tantas velinhas num bolo que mal da conta de recebê-las todinhas.

E adoecemos. Alquebrados e caducos, esta palavra soa aos meus ouvidos moucos como prepaleozoica. Ou inerente ao Jurassique Parque.

E, exatamente quem não pensávamos, nossos amados filhotes, de asas prontas a avoar, são eles mesmos quem nos atiram como trastes inúteis a uma casa de idosos. São tantos nomes a dar àquelas casas de velhos que meus dez dedos não dão conta de contar.

Triste, para não dizer infelicidade.

Essa dura real idade. Deveria dizer realidade. Termo parecido com idade velha.

Carta fora do baralho. Senioridade soa melhor. Caduquice hoje se usa dizer paciente portador de Alzheimer. Aqueles olhos perdidos no meio do nada, inexpressivos, vazios.

Há tempos pensava ter um amigo.

Eu o conheço de velhuscos carnavais. Ele é um grande homem embora de diminuta estatura que só de citar seu nome em São Paulo logo admiradores acorrem com seus caderninhos nas mãos a fim de que ele autografe como um ícone que sempre foi.

Ele nasceu aqui pertinho de nossa Lavras querida. Numa cidadezinha que não espicha e somente encolhe. Seu nome é Itumirim.

Mas, este grande homem do rádio, apelidado de Tatu e Pai do Gol, já foi alvo de meritórias condecorações. Entrevistado em televisões desde sempre.

Agora vive no ostracismo sem ser uma pérola negra. Mas ele tem igual valor.

Agora, este meu amigo, ex vizinho de minha morada no bairro Centenário.

Agora experimentando a sua viuvez ao lado de sua nova esposa.

Ele vive a espera da hora de partir. Pra onde? Eu lhes indago. Não sei…

O fato que nos tempos de agora meu amigo, um tanto quanto esquecido e com repentes de ausência, enquanto a sua amada esposa faz as compras ele aguarda do lado de fora da loja simplesmente portando sacolas…

Eu não desejo este mesmo destino pra mim.

 

 

 

 

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