Cansei de viver entre mofos do passado

Ontem, quando a noite se despedia de uma linda tarde, ainda na casa de minha filhota Bárbara e de seu esposo Daniel, a espera que ela e minha Rosa terminassem seus trabalhos, ao me despedir dos meus dois netinhos- Theo e Dom, vi-os entretidos com seus tablets. E nem se lixaram de pedir a benção de seu já sentindo-se alquebrado avô. Embora pense ser menino. Ledo equívoco.

O que um idoso, se preferirem velho ou sênior que me corrijam antes que termine esta crônica. Pois pra mim tanto faz como tanto se desfez. Ser chamado de velho, como um sapato furado na sola sem chance de receber solado novo. Ou idoso, que talvez rime com vaidoso. Mas, ao me olhar no espelho nunca a ela perguntei: “espelho espelho meu. Existe alguém, neste nosso mundo, desde que o mundo não se sinta tão imundo, pois jogam tanto lixo em sua beleza não mais impura, alguém mais belo do que eu”?

As distinções entre meninos e meninas e os velhos. É que os primeiros, no começo de suas vidinhas ainda por ter começo, usam fraldas e muitos ainda cueiros deles se utilizam. Usam chupetas pra mamãe não chorar. Como dizia antes uma linda marchinha de carnaval.

E uma vez chegada a velhice nós, por um distúrbio da micção, por não conseguirmos segurar a urina passamos a usar fraldões. E deixamos as chupetas de lado e passamos a chupar nossos dedos depois de ver aquele lindo traseiro arrebitado passar logo ao nosso lado.

Tenho voltado a empunhar uma raquete de tênis como o fazia sem a maestria de um Federer ou Nadal. Foram quase quarenta anos sem jogar tênis.

Ainda me lembro das partidas disputadas nas não tão bem cuidadas quadras daquele clube pra onde sempre vou antes do chegar das noites.

Tinha o saudável costume de jogar em duplas com meu pai como parceiro. Do outro lado da rede o honorável professor Osvaldo Louzada Serra tendo como repartir meia quadra a saudosa dona Nieta Moreira. Que, com seu saiote branco e curtinho me faz lembrar da maior tenista brasileira a Maria Ester Bueno. Tantas vezes campeã em torneios maiúsculos quando o esporte tênis ainda não era considerado profissional. Ou até mesmo disputando partidas simples com muitos amigos. Entre eles cito Ivo de Castro. José Rita infelizmente já foi enviado a fazer projetos lindos no céu. Alessandra Teixeira que ainda mora pertinho do clube. Infelizmente, quando a convido agora a jogar comigo ela vem com uma desculpinha esfarrapada que ora se encontra por demais atarefada no que não acredito, pois, a verdade seja escrita- ela está com medo de perder a partida mais uma vez depois de tantas vitórias.

Ah!  Jamais me perdoaria por deixar de fora estes que agora cito- Yan Van Den Berg. O holandês mais parecido ao veio do rio. Cabeça branquinha como flocos de algodão. Ex funcionário do Banco cujo nome segundo é o mesmo do nosso amado país. O Augustinho que inda joga. Espero trocar raquetadas com ele nalguma tarde morna. Perdoem-me se mais uma vez volto a falar do passado. É que ainda que tente a ele não retornar ele me toma pelos braços e me faz levitar.

Ontem, depois de malhar na bela academia do LTC. Com a minha sacola amochilada. Dentro dela estavam a minha raquete. Um tubinho de bolas amarelas já meio gastas. Como eu. Uma sunga por baixo do meu short de malhar. Uma toalha para me enxugar depois de piscinar. Ao final da tarde.

Uma vez na quadra de baixo do mesmo clube. Na de cima onde jogava as disputadas partidas em duplas com meu saudoso pai fica gravado o meu nome numa placa que entre muitos tenistas do passado alguns talvez joguem tênis no céu. Fomos nós todos os responsáveis pela iluminação daquela quadra que sempre teve a preferência dos tenistas de dantes e os de agora. Pena não ser coberta. Pois, quando chove ela não pode ser usada.

Ontem não havia nenhures adversário a perder ou ganhar de mim. Acabei por jogar contra mim. Embora não me considere adversário pasmem! Perdi de mim mesmo.

Gostaria de deixar testemunhado meus sinceros encômios a atual diretoria do LTC. Patrícia, a morena que administra o clube. Sempre presente dando ordens e poucas vezes escutando elogios. Ao presidente também tenista que não paga o seu personal e acabamos pagando nós. Os associados. Aos simpáticos e eficientes funcionários do mesmo clube sempre solícitos e bem humorados. Entre eles cito apenas um- o Quincas, que ontem não deixou de ser selfado junto a mim (selfado é mais um neologismo Rodarteano).

Já depois de terminada a partida entre mim e eu. Se houve vencedores ou vencidos ignoro quais foram. Desci um cadinho a rampa por terminar e me embeveci com um outro espaço nomeado de espaço zen. Foi lá que descobri estas frases: o silêncio é o segredo para se ouvir os sons da vida. Meditar é sair para passear com sua alma. As grandes ideias surgem da observação dos pequenos detalhes.

Como titulei acima – cansei de viver entre mofos do passado.

Parece que não.

Sempre me reporto a ele. Embora deseje viver o presente o passado persiste em me azucrinar as ideias.

Aquela mesma rua me seduz embora a velha morada não exista mais.

Foi lá que cresci. Não em estatura e sim em cultura. Foi lá que aprendi a respeitar e admirar os pais. Foi lá mesmo que perdi meu pai em meus braços inermes de médico. Foi daquela mesma casa que levei minha querida mãe à Santa Casa e ela veio a falecer a minha vista desconsolada e acabrunhada de esculápio que sabe quando é chegada a nossa hora.

Confesso que gostaria mesmo de apagar todos os traços do meu passado. Embora ele me pareça mofado e perdido nos anos eu a ele venero. Cultuo como a um santo.

Apesar de parecer cansado de tanto falar em lembranças elas me assaltam dia e noite. E não consigo me desvencilhar delas jamais.

A palavra adeus é muito forte. Aos tantos nomes que declinei dantes digo-lhes um até breve.

 

 

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