Bravatas de um tal candidato

Era quase véspera das eleições.

O final de outubro se avizinhava.

O assunto futebol. Os conflitos entre as torcidas. Pra que time você torcia. Qual religião o senhor professa. Qual a mulher boazuda você jantou no dia de ontem?

Eram assuntos vencidos.

Não se falava noutra coisa a não ser em política.

Até parecia que os postulantes às duas câmaras eram favas contadas.

Deputados, senadores, passaram a ser figuras decorativas no cenário nacional.

À boca miúda não se falava em outro assunto. Eram os postulantes ao cargo maior da nação brasileira que dominava a prosa ruim.

“Eu voto no Lula”. Esbravejava o Chico Bento.

“Eu garanto que o candidato da direita vence o pleito no primeiro turno.”

Arrazoava o pai de santo nada bento.

E as discussões entravam noite adentro. Interminavelmente.

O candidato palrador e boquirroto vociferava: “sabem o que eu fiz? Criei o Pix. Dei 33% aos professores. Aumentei o bolsa atleta de 1000 para 8000 reais. Possibilitei a transferência de veículos sem cartório. Trouxe o 5 G para o país. Obtive recordes nas exportações brasileiras. Criei o programa água doce. Possibilitei a prova de vida para os idosos pelo celular. Zerei impostos federais da gasolina e do gás. Fiz voltar os jogos estudantis. Entreguei mais de um milhão e duzentas mil casas no Projeto Casa Verde e Amarela. Fui parceiro com a NASA na Missão Artemis. Puz um ponto final na transposição do Velho Chico. Aumentei o bolsa família de 180             reais para 600 reais com o programa Auxilio Brasil. Propiciei um lucro recorde na Caixa Econômica Federal. Inseri no mapa inúmeras ferrovias. Combati o garimpo ilegal. Alterei a Lei Rouanet. Combati a corrupção como nunca dantes. Permiti a validade do CNH para dez anos. Dei mais de 400 mil títulos de terras.”

E a lista não parava de espichar.

Enquanto o outro, dono de apenas nove dedos. Um ex presidente, ex presidiário. Cuja fortuna de um de seus rebentos. Um que catava bosta de elefante no zoo de São Paulo. Que agora arrebentou de tanta riqueza de natureza incerta. Corria à boca graúda que foi amealhada às custas de um propinoduto graúdo. O seu pai mantinha-se em sigilo absoluto.

A tudo assistia um tal de Zé Mané.

Gente de mãos caludas e tez tostada pelo sol. Que acordava ao cantar do galo e no cacarejar das galinhas ao botar ovo debaixo da bananeira que já deu cacho.

Seu Zé Mané. Aquele mesmo que já tirou com um facão enferrujado não sei quantos bichos de pé a tudo oiava sem emitir opinião. Quase um criado mudo e surdo.

De repente. Não mais que repentinamente. E oia que ele não mentia. Muito menos era afeito a gabolices.

Depois de tantas falácias. De tanto ouvir prosa ruim. Alavancou-se de seu banquinho de três pés somente.  O mesmo que usava para tirar leite da Braúna. Que escoiceava quando de bezerro novo e de mais idade.

E vomitou toda a sua ira contra os dois candidatos que iriam disputar o segundo turno sem direito a returno retumbante.

“Seis qué sabê memo? Eu num fiz nada disso. Sô devoto da Santinha dos Desata Nós. Conquistei tudinho que tenho com as minhas mãos limpinhas cumo bunda de nenê. Nunca da minha boca arrotei vantage vantagiosa. Num tive herança de pai bandido como vosmecê Lulinha. Alinhás. Só apricio o nome de seu pai quando janto lula ali na mesa num restaurante lá de Lavras. Na tar casa de uma muié prendada chamada de Thaís.

Tudinho que possuio é pela desgraceira dos meus isforços inforcados. Pur dimais.

“I, pra pô um pingo nos is. Sem mais delongas. Euzinho. Nem minha familhona bocuda que nem Anaconda ingulidora de gente inteira. E depois avomita todo o contiúdo da barrigona gorducha e cuspe fora. Eu num voto em ninhum de vosmecês. Vê lá se eu voto em veiaco? Jamai. Num bâo franceis”.

 

 

 

 

 

 

 

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