Matutando aqui

Pensar sempre foi um dos meus maiores predicados.

Penso na vida ao mesmo tempo em que me preocupa o seu final.

Agora mesmo o sol brilha. No decorrer do dia deve chover.

Tomara! Assim sempre dizia um amigo da roça.

Antonino, no alto dos seus muitos anos, todos eles passados na roça, dali não saía a não ser para comprar mantimentos, olhava pro céu, em noites de lua cheia, céu recheado de estrelas, e logo previa o que iria acontecer.

Um dia ele me disse: “amigo Paulo. A chuva anda escassa. Tempos difíceis estamos atravessando. Antigamente chovia na hora certa. Agora a chuva aparece sem aviso prévio”.

E eu não tinha como discordar com ele. Passamos por tempos obscuros. Ora a chuva cai destemperada. Em alguns lugares ela provoca alagamentos. Enchentes põem vidas a perder. Noutros se formam espaços inviáveis à vida humana.  O que estamos fazendo ao nosso planeta só o futuro há de nos dizer.

Em verdade vos digo. Tudo muda ao sabor dos tempos. Antes se usava saias cobrindo a dobra do joelho. Já hoje não se sabe onde mora o decoro. As mulheres se desnudam cada vez mais. Elas abusam da nossa paciência. E depois dizem que foram assediadas. Cabe à gente ficar apenas olhando. Olhar não paga pedágio. Ainda bem. Se fosse o contrário não sei o que iria sobrar das nossas finanças. Já tão minguadas. Nestes tempos bicudos por que estamos passando.

Há tempos venho matutando quantas mudanças a vida nos reserva. Mortes têm ganhando espaço nos noticiários. Quando deveria ser a vida a manchete principal.

Perdas ganham em vantagem dos ganhos. Hoje quase não se ganha mais. Famílias inteiras cada vez mais endividadas. A miséria campeia em todo território nacional.

Matuto como aquele matuto da roça. Sempre com aquele paiero apagado no canto da boca.

“Que tempos bicudos! Não se sabe quando vai chover. Quando o sol desponta na linha do horizonte. Com quem anda saindo a comadre Benedita? Não se sabe se com o safado do Agenor. Ou com o sabido do Antenor.”

Matuto sobre a tal doença que dizem ter começado na China. Seria em verdade mais uma Fake News. Não se sabe mais no que acreditar. A descrença chegou para ficar.

Não se sabe mais em quem confiar. Leva-se vantagem em quase tudo. Certo? Ou, conforme meu avô dizia: “errado, seu Paulinho. Quando crescer, e deixar de ser menino, vai saber a diferença entre o certo e o errado”.

Deveras entendi o seu recado. Pena que nem todo mundo pensa assim.

Matuto sobre a vida que tenho levado. Ela tem sido boa.  Acredito positivamente.

Se bem que ela tenha motivos de introspecção e apatia os momentos bons predominam.

Tento olhar a vida com olhos de borboleta. Pousando de flor em flor. Esvoaçando pelos canteiros de margarida.

Matuto sobre a tal pandemia. Quando será que ela vai embora. E não mais vai infernizar nossa vida?

Lucubro sobre o desfecho deste ano em curso. Oxalá ele vai ser melhor do que aquele que teve fim.

Matuto sobre o futuro de nosso país. Tomara seja mais alvissareiro do que o presente que nos assiste.

De tanto matutar, de tanto pensar na vida, acabo chegando a seguinte conclusão.

De nada adianta perder noites insones. Se a vida recomeça a cada instante. Como aquela borboletinha que um dia vi a voar de flor em flor.

 

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