Sem mais delongas

Acostumei-me, desde quando completei maior idade, a ir direto ao assunto, sem mimimis que não levam a nada.

Alongar demais enche linguiça. Toma tempo da gente. Tempo esse sempre escasso. E como ladra depressa o tal tempo.

Conheço um senhor, de nome Benedito, nos seus bons anos de idade, creio que no seu calendário coleciona quase cem anos, ele deve viver muito mais, o qual sempre que passo por ele o encontro assentado nos seus calcanhares, a fumar um paiero apagado, deixou de fumar faz tempo, pois sempre diz, com sua sabedoria cabocla: “fumar faz um mal danado. Desde que deixei o vicio me sinto bem melhor. E pretendo viver muito mais”.

O segredo para ser feliz, segundo ele mesmo, é viver a vida sempre pensando no melhor. De que adianta ficar preocupado se as preocupações passam. E a gente só ultrapassa a maior idade se nos livrarmos das picuinhas. Elas só servem para nos estragar do dia. E que dia lindo amanheceu na manhã de hoje.

Seu Benedito é de pouca prosa. Quase monossilábico.

Acostumou-se a viver desse jeito. Uma vez jovenzinho ainda falava pelos cotovelos.

Ainda se lembra, recordava ele, de quando apareceu na sua porta uma senhora vinda de longe.

Seu nome, se não se enganava, era Dona Maria. Não sei do quê.

Ela assentou-se à cadeira da sala. Contou em minúcias toda a história de sua vida pregressa.

Enquanto a dona falava Seu Benedito quase ficou surdo. Era tanta baboseira que dava para encher um rio inteiro em tempos de seca brava.

Ao fim da conversa a tal dona Maria agradeceu a audiência. O relógio marcava quase meia noite e meia. O pobre Benedito quase fechava os olhinhos de sono. Acostumado a dormir cedo não via a hora de a visita se despedir. E ela continuava a cantilena.

Desde então Seu Benedito aprendeu a lição. Passou a falar pouco. Expressava-se em poucos ditos. Não via a hora abreviar a prosa. Eram uns assuntos de fazer cachorro latir enraivecido.

Naquele dia em que passei por ele, numa curva da estrada, encontrei-o do mesmo jeitinho.

Assentado naquela pedra dura. Ao cair da tarde, quase morta.

Tentei palrar com ele. Não tinha pressa. Ele, com aquele jeitinho maroto, respondeu ao meu cumprimento com um ei de prosa.

Nada mais. Nada menos.

Permanecemos juntos um par de minutos apenas.

Foi o suficiente para entender que ele não queria prosa.

A partir daquele dia, lindo, temperatura amena, apelidei o Seu Benedito de Sem Mais Delongas.

Paro por aí, para não me alongar tanto…

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