Até hoje não sei …

Quantas interrogações me passam pela vida.

O que vai ser de mim? Quantos anos mais viverei? Serei feliz o tempo que me resta? Ou, se porventura sobreviver a esta pandemia, quantos mais sucumbirão de hoje ao seu final.

São perguntas que não são respondidas. Assim espero. Nesta minha vida de tantos anos.

De agora a alguns meses apenas estarei aposentado. Não do trabalho. Pois, segundo meu pai dizia, com sua enorme sabedoria, o ócio total é o começo do fim.

Esta primavera que teve começo felizmente a chuva caiu. Hoje, neste vinte e três de setembro ela deve continuar. O céu se mostra cinzento. Um friozinho insistente deve persistir ao deitar da tarde.

Até na presente data muitas indefinições fazem parte do meu pensar.

Teria a felicidade de ver meus netos formados? Recebendo o diploma como eu, há tantos anos passados, naquela solenidade, junto a muitos colegas, muitos deles já partiram rumo ao infinito.

Teria vida depois da morte. E a gente, uma vez sepultados, ali terminaria a nossa caminhada na vida terrena? São indefinições as quais talvez nunca consiga vislumbrar.

Até hoje ignoro tantas coisas. Interrogações me fazem pensar.

E nossos pais, nossos antecessores, ainda olham por nós?  E onde estarão eles? Viraram anjos? Repousam em paz no céu cinzento? Ou na azulice etérea do firmamento?

Até hoje não sei. Onde estarão meus amigos antigos. Aqueles com quem brinquei? Num passado remoto a eles pranteei. Derramei lágrimas de saudade imensa. Ai que saudade dos meus pais…

Até hoje ignoro onde se esconde a minha infância perdida. Meus anos passados naquela rua que daqui se avista pelos fundos. Minha primeira namorada. Ainda me lembro do seu nome. Será que ela se recorda do meu?

Até hoje não sei por onda anda meu primeiro cãozinho. Era um Border Collie fujão. Seu nome era Willie. Uma vez ele se evadiu. Da minha casa no condomínio. Nunca mais o vi. Será que ele ainda vira-lata pelas ruas? Seguindo seu instinto escapista?

Até hoje ignoro o paradeiro daquele cavalinho piquira. Presente do meu pai. Quando o vi não gostei à primeira vista. Gostaria de ter um cavalo maior. Da altura exata dos meus sonhos de criança que pensava demais.

Até no presente momento não sei por onde anda aquela bicicletinha de rodinhas amarelas. Quantos tombos levei. Mas logo me equilibrei. E passei a bicicletar pelas ruas da cidade. Sob o olhar vigilante do meu saudoso pai.

Até hoje não sei se fui repreendido pela minha querida professora. Por ter me ausentado da aula de aritmética. Matéria que não me atraia nadinha. Já que preferia o português. Pelas letras sempre me apaixonei.

Até hoje ignoro porque razão meu avô Rodartino foi batizado com este nome. Penso que o motivo seria por que ele andava tanto. Como eu ando pelas ruas da minha cidade.

Até hoje não sei tantas coisas. E espero continuar a aprender. Neste resto de vida. Até meu último alento.

Ainda bem que até hoje não sei. Espero descobrir algum dia. Que este dia não seja quando do meu sepultamento.

 

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