Ele sempre foi um homem trabalhador.
Só que a sorte nunca lhe bafejou na vida.
Otimista de plantão, alegre desde quando o conheci, Sebastião não faltou aos seus compromissos.
Nascido e criado na roça, onde tinha o umbigo enterrado debaixo de uma bananeira, nos fundos da casa, desde pequeno sempre ajudava ao pai nas tarefas do campo.
Estudou até a quinta série do primeiro grau. Foi quando teve de parar os estudos.
Acontece, para tristeza dos seus amiguinhos, a escolinha se mudou pra cidade. E com ela a esperança de continuar os estudos.
Tiãozinho era um menino aplicado. Bom aluno, elogiado pelas professoras. Sempre tirava notas boas. Considerado aluno exemplar.
Aos doze anos perdeu o pai. A mãe, sempre queixosa da vida, filho único que era, a partir de então passou a ser o esteio daquela rocinha encantada.
Esforçado acordava ao cantar do galo. Era ele, sozinho, que dava conta de ordenhar a vacada, alimentar a porcada faminta, e, lá pelas oito levar a produção do dia ao alto do morro. Onde esperava o caminhão leiteiro.
Uma vez feito adulto continuava na mesma rotina. Era conhecido por nunca negar ajuda a quem precisasse.
Era solícito por formação. Bondoso de coração. Todos nas cercanias o admiravam.
Mas, aos trintanos, permanecia solteiro por predestinação.
Não que não apreciasse a companhia de mulher. Era homem com H maiúsculo.
No entanto, como diziam as tias casadoiras, mulher na roça era coisa rara. Ali eram consideradas enfeites de saias.
Tião se fez idoso. Ultrapassou a idade dos enta.
Aos setenta continuava na lida. Ainda com a saúde em dia.
Da mesma maneira que dantes o velho Tião era estimado por toda a vizinhança. Vivia da mesma forma solitário. Naquela rocinha perdida nos cafundós de Judas.
Naquele resto de inverno, com a temperatura esquentando, o velho Tia o cada vez mais se preocupava com o destino da propriedade.
O preço do leite despencou . A ração foi às alturas. As finanças iam por água abaixo. O saldo bancário periclitava mais e mais.
Até então nunca havia ficado no vermelho. Aliás, era a cor que mais abominava.
Foi quando teve de ir à cidade. Longas filas se formavam à porta dos bancos.
Quando chegou a sua vez de falar com o gerente se descobriu negativo. Foi um susto danado. Jamais lhe havia acontecido antes.
Saiu daquela casa bancária sentindo uma dor no peito profunda. Um passante o levou ao hospital. Foi internado com diagnóstico de infarto. Recebeu alta ainda pior.
Sem condições de um tratamento digno passou por maus bocados.
Um mês depois o velho Tião foi sepultado. Em seu epitáfio lavraram uma frase lapidar: “ aqui jaz o velho Tião. Também chamado por Tião Negativo. Não por negar ajuda a quem precisasse. E sim por ser honesto. Um exemplo a ser seguido”.