Por que dói tanto a cadeira do dentista?

Passam os anos, aumentam as despesas.

Com o desenvolver dos anos as enfermidades se apresentam.

Os dentes enfraquecem. Perdas e danos acontecem.

Os sisos desaparecem. O juízo, a partir daquela idade, passa a ser privilégio dos mais jovens. E só nos resta cuidar da saúde dos que restam.

Antes que a banguelice sobressaia, e nos deixe com as gengivas à mostra, as visitas ao profissional dos dentes deve ser amiudada.

Só quem já sofreu com uma dor dente bem sabe da angústia que nos incomoda.

De tempos pra cá tenho feito com frequência uma visita, sem ser convidado, àquela cadeira que impõe medo.

O tal dentista, tido especialidade afim da medicina, o qual ainda veste branco, usa máscara, não por causa da tal pandemia, e sim para esconder a verdadeira identidade, quando nos pede que assentemos àquela cadeira, e fiquemos de boca aberta, mal sabe ele o quanto iremos sofrer.

Foi assim que me aconteceu, esturdia, num final de tarde, quando fui fazer-lhe uma visitinha de pura descortesia.

Assentei-me àquela cadeira que sobe e desce. Ela, para meu desconforto, massageava-me os costados. Ao revés. Nunca me senti tão desconfortável quanto naquela tarde sombria.

Foi quando aquele atencioso e competente odontólogo inquiriu-me se preferia com ou sem anestesia. Fui logo afirmando, lucubrando sobre o preço, que gostaria de fazer o tratamento a seco. Eu era macho. Pensava até aquele momento.

Foram exatas cinco horas inexatas de pura provação. Depois de abrir-me a boca, por sinal pequena, com uma borrachinha meio azulada, chamada de campo cirúrgico, e enfiar-me boca adentro uma meia dúzia de instrumentos, de pedir que não falasse, que permanecesse quase sem respirar, caso doesse fizesse um gesto indicativo de dor, depois de tempos e tempos intermináveis, de fazer radiografias de toda a minha arcada dentária, e concluir que havia um canal a ser tratado antes, fui dispensado, naquele dia infeliz, e que procurasse um especialista, em profundidade, para tratar o meu canal avariado.

Dito e mal  feito. Mais outro dia de sofrimento.

Voltei uma semana depois. Ainda sentindo, no bolso vazio, toda a angústia de uma boca dolorida.

Ainda restava restaurar a cavidade entreaberta previamente. Foram mais duas horas de dor e constrangimento.

Quando pensava que tudo estava terminado, e eu, enfim, poderia sair daquela posição incômoda, qual não foi o meu desengano.

Ainda restava um pequeno enorme detalhe. Uma cariazinha de nada se instalou nos meus derradeiros molares.

Foram mais radiografias. Mais avarias reconditamente escondidas. Mais incursões em minha bocarra escancarada. Desta vez pedi com anestesia.

Depois de mais duas ou três visitas afinal fui libertado do seu jugo dominador.

O pior foi na hora de pagar a conta. Confesso ter sofrido mais do que durante o tratamento inteiro.

Considerando-se o que cobro por uma cirurgia de fimose, ou então uma singela vasectomia, foi o triplo do quádruplo da importância que tive de desembolsar.

Mesmo assim assinei os cheques. Creio que foram três ou mais.

Não sei quando voltarei àquela cadeira macia. A tal que sobe e desce como elevador.

Foi quando me perguntei: “por que dói tanto a tal cadeira do dentista? Seria uma dor fictícia? Ou a dor é inexistente. Já que o sofrimento é opcional”?

Até hoje não sei…

 

 

 

Deixe uma resposta