Lá se foi o tempo

A marcha do tempo caminha a passos rápidos.

Já não temos mais vinte anos. A infância deixou saudades.

Antes, naqueles tempos em que não tínhamos ainda noção do que seriamos, apenas brincávamos de patinete, jogávamos finca naquele terreno baldio, pulávamos amarelinha, e, quando fazíamos alguma arte éramos repreendidos por nossos pais, num castigo inocente, muitas vezes assentados àquele banco duro, de costas para a televisão.

Já hoje os tempos mudaram. As diversões são outras. As crianças de agora não se desgrudam do celular. Passam horas a fio imersas naqueles joguinhos, expertas que são no seu manuseio.

Antes tínhamos apenas um carrinho de rolimã. Ou uma bola feita de meia. Era o bastante para sermos felizes. A escola mudou radicalmente. Os professores eram respeitados. Muitos deles admirados. Um caminho a seguir.

Lá se foi o tempo das cantigas de roda. Daqueles beijinhos inocentes. Da pureza d’alma. Do respeito aos anciãos.

Lá se foi o tempo da reverência aos mais velhos. De respeitar-lhes as cãs. De admirar-lhes a sabedoria.

Lá se foram os anos, quanto tempo faz, de saber qual era o nosso lugar.

Lá se foi o tempo que uma gripinha de nada no máximo nos fazia tomar um caldo quente. E não precisávamos ficar isolados. Como bois confinados. Sem pode ir à rua. Num dia lindo como este começo de outono.

Lá se foi o tempo em que doenças eram tratadas em casa. E não tínhamos de passar horas e horas a espera de atendimento em algum hospital público.

Longe ficaram os anos quando a gente não tinha de usar máscaras, muito menos ficar esfregando as mãos, com receio de contaminar ou ser contaminado.

Lá se foi o tempo quando a fraternidade existia, as visitas faziam parte do costume, sem medo de incomodar quando tocávamos a campainha na hora da novela das oito e meia, que nunca começa na hora certa.

Longe se foram os anos quando acostumávamos a tomar a benção dos nossos pais. Numa atitude de respeito e veneração.

Lá se foram os anos, anos bons foram aqueles, quando ainda não existiam as tais pandemias, as doenças eram outras, menos intimadoras.

Lá se foi o tempo quando ainda éramos crianças, bendita infância, doces lembranças, daqueles bons anos que não voltam mais.

Lá se foram os anos, perdi a conta de quantos são, que qualquer repreensão era levada a sério, e motivo para mudarmos de vida, a partir daquele puxão de orelha dado por nossos pais.

Lá se vão os anos, perdidos entre desenganos, quando a nossa avozinha fazia doce de leite, com as sobras daquele leite quentinho, tirado naquela manhã bem cedo.

Quantos anos se passaram desde então. Foram muitos. Incontáveis tantos. Quem nem cabem nos dedos das duas mãos.

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