Caos

Tempos conturbados estamos passando.

Não se fala noutra coisa.

Uma tia torta, quando a coisa não ia bem, dizia, desassombrada: “o mundo vai acabar amanhã”.

E neste amanhã a sua profecia nunca acontecia. A vida recomeçava tudo de novo. A chuva parava. O sol voltava a brilhar. Crianças nasciam.

Assim caminha a humanidade. Entre crises que parecem não ter fim, entre dificuldades que, a primeira vista parecem insuperáveis, entre o desamor, entre a dor, tudo isso misturado a uma pitadinha de desalento. E no dia seguinte tudo encontra seu rumo.

O ser humano tem uma capacidade de se reerguer das cinzas. Supera guerras, vence mazelas, e no dia seguinte acorda pensando no que fazer amanhã.

Neste mês de março fatos inesperados têm acontecido.

Parece que foi ontem. Um vírus vindo não se sabe vindo de onde apareceu num país distante.

A crise instalou-se num átimo. Vidas se perderam. Logo aquela patologia espalhou-se mundo afora. Não se falava noutra coisa.

E logo fomos afetados por aquela virose única.

Alguns brasileiros foram trazidos de longe. Aqui cumpriram um período de quarentena. E foram liberados após alguns meses de isolamento.

Nestes dias conturbados o país parou. Uma crise se instalou. O comércio fechou as portas. Pessoas são desaconselhadas a saírem às ruas. Como se fosse possível ficar em casa. Assistindo as notícias avassaladoras pela televisão. Que mudou a sua programação. Provocando um mal maior entre os telespectadores. Já assustados com esta pandemia. Que pode não passar de uma gripinha boba. Como tantas que já enfrentamos num passado perto.

Percebo, ao sair às ruas, um verdadeiro caos. Lojas vazias. Pessoas mal informadas espalham notícias falsas. Fábricas demitem. O desemprego, que já era grande, torna-se ainda maior. O contato fraternal foi abolido de nossos costumes. Agora falta-nos o abraço. Não temos como estreitar os laços de amizade. Um simples espirro pode ser indício de uma catástrofe. Uma tossezinha coloca-nos em polvorosa. Não mais podemos sair às ruas. Que mais e mais ficam vazias.

Estamos à mercê de uma epidemia de falta de condições de sobrevivência. Em pouco tempo os supermercados estarão desabastecidos. O campo clama por trabalho. Não se planta mais. Quem vive na roça tem medo de vir à cidade.

O transporte coletivo ameaça parar. Escolas fecham as portas. Crianças em casa aprendem o que não devem. Grandes aglomerações são extintas. Até parece um cenário de guerra. O mundo inteiro respira o tal vírus.

Até quando vamos sobreviver neste estado de calamidade?

Agora mesmo, nesta manhã linda, ao sair de casa quase não vi pessoas nas ruas.

Enfurnadas dentro das casas assistem a televisão. Em sobressalto, desiludidas, amarguradas, neste ambiente caótico que tentam nos enfiar goela abaixo.

Espero que este estado de coisas não dure muito. Pois a vida continua. Independente de nossa vontade.

O caos que se instalou faz pouco tempo talvez sirva para alguma coisa.

Que esta lição nos faça mais fortes. Já superamos tantas coisas ruins. Não iremos permitir que a tal virose contamine as nossas esperanças. Um mundo melhor há de vir. Num próximo porvir.

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