Meu amigo Pirunguinha

Hoje chove. E como tem chovido neste final de ano. O céu se mostra cinzento.

Parece, como indica o tempo, deve continuar a chuva no decorrer do dia.

Dias nublados me tomam de inevitável tristeza. Sinto por dentro uma angústia sem precedentes.

Ainda por cima, como se não bastasse tal fato da chuva que cai, soma-se a isso este acontecimento, embora previsível, mas da mesma forma indizivelmente triste.

Eu o conheci graças a sua irmã que hoje lhe faz companhia. Ela foi levada pra onde você deve estar chegando num dia tristonho como este de hoje.

Dóia foi ceifada da nossa companhia há alguns anos apenas. Compareci ao seu funeral num dia de muita dor. Ainda hoje tenho a sua fotografia na mesa do lado. Onde fica a sua outra irmã, minha fiel escudeira, a afável e risonha Zaninha, por quem tenho igual apreço.

Quantas vezes fomos juntos a minha roça. Especialista em telhado o tal amigo do peito muito me ajudou a concretizar meu sonho de edificar na minha rocinha encantada uma cobertura onde minhas vacas pudessem comer sem se molhar.

Passamos tempos juntos naquele pedaço de chão. Uma vez apenas tive de levá-lo a uma unidade de saúde perto, na vizinha Ijaci, para que ele se recuperasse de um desmaio súbito.

Ficamos horas e horas esperando a sua recuperação. E ele voltou ao trabalho com a mesma disposição costumeira, pitando seu cigarrinho, tossindo de tempos em tempos, sempre sorridente, de bem com a vida.

Meu amigo do peito, sempre afeito ao trabalho, embora com a saúde frágil, nunca dizia não quando o convocava a ir comigo a tal rocinha prejuizenta, hoje entregue a outro amigo.

Pirunguinha ontem se despediu da gente. Depois de pertinaz enfermidade, contra a qual lutou bravamente, na noite de ontem ele se foi. Levando não apenas saudade. Como um imenso carinho da sua família que ainda resta. Sua mãe amantíssima, a querida dona Maria, deve esta derramando lágrimas copiosas em sua ausência.

Seu pai, o outro Pirunga, de mais idade, da mesma forma especialista em telhado, foi outra perda a qual pranteio até nos dias de hoje.

Sua irmã, Betel, cozinheira de mancheia, da mesma maneira chora a perda do irmão.

E como deve estar Zaninha? Nesta hora madrugada? Decerto ao lado do corpo do irmão, único varão naquela família tão boa, pela qual nutro enorme admiração.

Hoje chove. Talvez amanhã faça sol.

Que Deus, não sua onipotência divina, consiga iluminar aqueles corações enlutados.

Que Ele consiga consolar todos eles.

Pois, meu amigo Pirunguinha lutou o bom combate. Foi vencido pela morte. Ainda jovem, sorridente, mostrando a todos nós um sorriso envolvente. Querido por todos que o conheceram. Respeitado por sua maneiras gentis. Afável no trato.

Hoje, no céu, decerto numa mesa de um bar, estará meu amigo Pirunguinha enfeitando o lugar. Fazendo companhia a sua irmã Dóia, ao seu pai o outro Pirunga, amigos do peito, por quem tenho em alta estima.

Tomara a querida Zaninha consiga superar sua dor. Em pouco tempo novamente ela estará na sala do lado. Onde a fotografia da Dóia repousa. Onde sempre vai estar.

Meu amigo Pirunguinha partiu. Despediu-se da gente na noite de ontem. Mas sempre vai estar presente em nossas lembranças mais caras. Pra sempre.

 

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