De hoje a alguns dias

Vinte e sete de novembro. Hoje aniversaria meu irmão.

Cinco anos nos separam. Parece pouco. No entanto, para quem logo passa dos setenta, parece uma eternidade.

Até parece que foi ontem que nasci. Não foi aqui. Nesta cidade linda. Onde passei a maior parte da minha vida.

Lavras é minha cidade do coração e onde criei família. Poucas vezes me fiz ausente. Foi para completar os estudos. Ir atrás do meu sonho de me tornar médico.

Para aqui retornei no ano de  mil novecentos e setenta e sete. Afinal são quarenta e cinco anos de graduado. Mais três de especialização. Ao todo conto nove longos anos antes de me tornar doutor.

E como foi difícil o começo de minha vida profissional. A urologia me seduzia. Trabalhava diuturnamente nos três hospitais. Perdia noites de sono. Agora durmo pouco. Talvez devido a este hábito de quando mais jovem. Acordo ante do cantar do galo. E durmo junto às galinhas.

A melhor hora para escrever é antes que o dia amanheça. Quando estou só no meu consultório.

Estamos perto do Natal. A cidade já esta respirando os ares natalinos. Uma grande árvore foi montada na praça principal. Luzes enfeitam a cidade. Apesar da festividade da data muitas famílias passam dificuldades. Não devemos nos esquecer dos menos aquinhoados pela sorte.

Duas datas são lembradas neste mês de dezembro. Que merecem de mim muitas lembranças que são perenizadas dentro da minha cabeça. Em sete de dezembro vim ao mundo. Na aprazível Boa Esperanca.

Em outro local distante nasceu outra criança. Que se deixou imolar na cruz na intenção de nos salvar.

Dezembro é um mês especial. Final de ano. Logo começa outro. E todo recomeço me enche de esperança. Dias melhores para o país. Dia de me lembrar dos meus pais.

De hoje a alguns dias comemoro mais um desaniversario. Fico um ano mais velho. Embora criança ainda me sinta.

Que saudade dos tempos de outrora. Quando ganhei aquela bicicleta de rodinhas cor de rosa. Logo me desvencilhei das rodinhas. Pedalava titubeante rua acima. Quantos tombos levei. Quantos galos na testa colecionei. Quantas lembranças boas trago daqueles tempos. E quanto tempo passou.

De hoje a alguns dias estarei setentando. Muitos amigos dizem que nem pareço ter a idade que tenho. Mas o espelho, abominável confidente, me afirma que um velhinho está a sua frente. Faço caretas. E rio de mim mesmo.

Em alguns dias estarei um ano mais velho. Não sinto os anos passarem. Faço de conta que os anos não passam. Apenas passarinham. Como um dia disse o adorável Mario Quintana.

Apesar da idade que me contempla não sinto por dentro nenhum sinal de longevidade. Leio com a acurácia de um falcão. Corro quando a ocasião permite. Nado como um pato sem asas. Não tomo nenhum medicamento. A vida pra mim tem sido benevolente. Que continue assim por anos a frente.

De agora a alguns dias faço setenta anos. Que esta data se repita por muitos e muitos anos. Com a mesma felicidade que sinto por dentro. Com a mesma alegria de viver.

É que desejo a vocês. Amigos, aparentados, a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra passarem os olhos no meu texto.

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