Até hoje tenho dúvidas

Ainda menino, estudante, curioso, assentado à primeira cadeira da sala de aula, perguntão como sempre, inquiria a professora, antes que ela começasse a lição: “professora, por que a terra é redonda e não quadrada”?

E ela pedia silêncio. Sem antes me admoestar placidamente : “menino. Procure nos livros a resposta a tantas questões”.

No dia seguinte mais uma pergunta lançava na aula de português: “por que se escreve amaldiçoado com ç e não com c?”

Acredito que seria apenas para fazer bonito. Já que sabia de cor e salteado todas as respostas. As quais ainda indago a mim mesmo. Tempos depois. Quando a criança que morava dentro de mim se tornou um avô quase ancião.

A curiosidade sempre fez parte da minha pessoa. O porquê dos porqueres ainda pululam na minha imaginação.

Até no presente momento nem sequer imagino pra onde as pessoas viajam quando morrem. Dizem que as boas vão pro céu. Mas, onde seria o tal céu? No presente momento ele se mostra cinzento. O azul está escondido entre nuvens que tapam a boca do sol.

Até hoje ignoro por que motivo alguns são felizes enquanto outros vivem tristonhos. Seria por falta de oportunidade de contemplar o sol que hoje não se atreve a deixar-nos de olhos fechados, tamanha a luminosidade que emerge de seus raios amarelos?

Até hoje não sei a razão das diferenças sociais que nos entristecem. Ontem mesmo, no cair da noite, ao passar pela praça principal, observei pedintes de mãos estendidas, muitos dormiam ao relento. Sob um frio enregelante. Sem teto, sem afeto, drogados, viciados, párias sociais.

Até hoje não sei o porquê de tantas crianças mendigando migalhas. Enquanto outras, afortunadas, nascidas em lares bem estruturados, têm a chance de estudar em boas escolas, e, mesmo assim desmerecem a oportunidade que tiveram. E não dão valor aquilo que receberam no berço esplêndido que nasceram.

Até no presente momento não sei a razão de tantas coisas. Por que os urubus avoam e a gente precisa de asas para voar.

Até hoje não sei por que os passarinhos cantam. Mesmo aprisionados em gaiolas. E a gente, livres, soltos, vivemos infelizes sem poder cantar.

Até hoje não sei qual seria o motivo de tanta infelicidade neste mundo. Já que aqui o sol brilha. A lua nasce no porvir do dia. As estrelas brilham em noites enluaradas.

Até hoje ignoro, qual seria a razão de filhos maltratarem os pais. E desampará-los na velhice. Quando eles mais precisam deles.

Até hoje não sei o porquê de tanta injustiça, de tanta disparidade entre ricos e pobres.

Por que seria que o mundo é tão desigual. Onde bem aquinhoados desdenham de quem nada tem. E mal temos tempo de estender a mão aqueles infelizes que vivem a margem da sociedade. Sem a menor chance de se darem bem na vida. Uma imensa legião de desempregados corroboram as estatísticas da infelicidade.

Até hoje não sei, e gostaria de saber, por que, se a felicidade existe, por que não a encontramos? Onde ela se esconde?

Pena, nestes minutos que passei a escrever, nesta manhã, dezesseis de agosto, mês do desgosto, pensam alguns, o sol ainda não se abriu. O céu ainda está cinzento.

Tomara, no decorrer do dia, todas as perguntas que faço a mim mesmo tenham a resposta devida. E, se não tiverem, pelo menos vou continuar indagando.

Que o país encontre seu prumo. E não continue como uma nau a deriva. Neste oceano de indefinições e incertezas. Desde que o mundo é mundo.

 

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