Consolo de idoso

Concordam comigo que ficar velho tem suas compensações.

Poder ficar num banco da praça. Assentado, confortável ou não, passar horas e horas esperando as horas passarem, sem nada a fazer, a não ser esperar, jogar conversa fora com os amigos, olhar para as mocinhas apenas demonstrando o desejo, sem, no entanto, ter coragem de com elas pernoitar, ter lugar especial nas filas, muito embora muitos desrespeitem o seu lugar, não pagar passagem nas lotações, apesar de a escada do ônibus ser um obstáculo quase intransponível as suas pretensões, ter espaço disponível ao idoso, apesar de este espaço estar ocupado por alguém com a metade de sua idade, e outras benesses ditas exclusivas do velho. Muito embora muitos considerem o velho uma carta fora do baralho. Um sapato gasto pelo tempo. Sem a menor possibilidade de colocar meia sola.

Estar velho não é padecer no paraíso. Ao revés. Muitos perdem o juízo. E passam o resto de vida que ainda têm relegados ao olvido. Numa casa de idosos qualquer. Esquecidos pela família. Para a qual deram tudo que tinham. Inclusive o resto de saúde que perderam.

Dizem que consolo de velho é desfrutar a tão sonhada aposentadoria. E quem disse que aquela soma irrisória é suficiente para passar o resto dos anos num asilo qualquer?

Outro consolo de velho é olhar para quem dorme ao seu lado. Seria uma doce ventura dormir com a avó?

Muitos dizem que velho tem seu lugar cativo numa fila para idosos. E quem disse que velho pode esperar horas e horas sob o peso de sua coluna torta?

Consolo de velho é poder olhar as estrelas e um dia fazer companhia a elas. As estrelas moram no céu. E é pra lá que o velho vai. Num futuro perto.

Outro consolo de velho é poder desfrutar a aposentadoria depois de tanto tempo de trabalho duro. No entanto, quem disse que o velho pode passear na praia sem poder caminhar, devido à artrose de sua coxo femoral?

Ser velho é perder a mocidade que se despediu faz tempo. Seu consolo é olhar pra trás e ver como o tempo passou. E ele nem percebeu que a velhice chegou.

Meu consolo, já que estou quase setenta, é olhar os netos, com eles passar alguns minutos, e não precisar trocar as fraldas. E apenas olhar aquelas carinhas risonhas, limpinhas, já que seus pais cuidaram de seus banhos.

Ser velho, pra mim, é o melhor tempo de nossas vidas. Desde que a saúde nos acompanhe. E as doenças fiquem distantes de nosso horizonte exíguo.

O maior consolo de velho não é dormir poucas horas durante a noite. E sim poder olhar para as estrelas. Contemplá-las quando elas nascem. E observar, durante as noites enluaradas, aquela lua cheia, feericamente iluminada.

Meu consolo maior, já que ainda não me acho velho, é olhar a vida que passou. E não me arrepender do que fiz. Pois tenho muito que fazer. Nos anos que me restam.

Aos velhos os meus melhores votos de uma velhice saudável. Andem, caminhem, olhem pra frente. Que atrás vem gente. E eles, os jovens, podem pensar que nós somos passado. Mas sem a nossa presença o que seria dos jovens? Fomos nós que demos origem a eles. E eles, mais dia menos dia, estarão como a gente. Consolando-se com as forças que ainda restam.

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