Ruas vazias

Daqui de cima do meu sétimo andar percebo, ao olhar pra baixo, poucos passantes a deixarem a casa rumo ao trabalho.

Trata-se de uma sexta-feira pós-feriado. Mais um final de semana se anuncia. Faz calor. O sol brilha em intensidade moderada. Logo mais deve esquentar.

Nem parece que o inverno começa hoje por volta do meio dia. Indício de dias frios.

Constata-se, devido ao movimento das ruas, a crise por que o país atravessa.

O comércio ressente-se da falta de dinheiro. Nem bem o mês começa o pobre trabalhador percebe sua carteira vazia. Pais de família desempregados. Pedintes de mãos estendidas. Jovens fazendo malabares nas esquinas a cata de suas sobrevivências. A saúde vai de mal a pior.  A renda do trabalhador despenca como uma cascata em dias de chuva forte.

Tudo fede a calmaria. Ruas vazias. Gente apressada preocupada com os baixos rendimentos.

Profissionais liberais a procura de clientes. Consultórios vazios. Expectativa de melhoras não se vê no dia após dia. O desemprego aumenta. Fábricas demitem.

Hoje, vinte e um de junho, começo do inverno, acordei a hora costumeira. Fazia calor. Liguei a televisão a procura de boas notícias. No entanto, o que assisti, naqueles breves minutos, foram apenas tragédias, acidentes que ceifaram vítimas inocentes, corrupção e prisões que duram menos que as chuvas de verão, políticos digladiando-se como gladiadores sem a valentia de então, falácias, malversações, podriqueiras banais, repórteres a cata de notícias alentadoras. Entretanto elas não se mostravam naquele horário precoce.

Ao sair às ruas percebi ruas vazias. Gente andando lentamente pensando no final de semana que se anunciava. Amanhã é sábado. Mais um final de semana prolongado. Mais um final de mês sem perspectivas de melhorar no mês entrante.

O que nos reserva o amanhã? E o depois de depois de outro amanhã?

Mais uma vez ruas vazias. Gente preocupada com o futuro da nação brasileira.

Sonho com dias melhores. Entretanto, nos meus quase setenta anos, quase não mais tenho esperanças de as coisas melhorarem. Cada dia é igual ao outro. Numa rotina que nos consome. Como o fogo queima a pastaria.  Nos dias de seca intensa.

Hoje saí de casa a hora de sempre. Agora são sete e cinco da manhã. O sol brilha forte. As ruas ainda estão vazias. De gente. De esperança. De perspectivas de dias melhores.

O sábado se anuncia. Dia de folgar, para muitos. De falta de emprego para a maioria.

O que esperar de um futuro que se mostra sombrio? Mais ruas vazias. Mais desemprego. Mais gente sem esperança de que um dia vai melhorar.

Infelizmente o que o futuro nos indica são mais ruas vazias. Mais gente ao desabrigo.  Menos sorrisos nas faces desemperançosas de dias melhores. Mais brasileiros incrédulos neste país que tudo tinha para dar certo. No entanto, o que se percebe, são mais e mais ruas vazias.

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