O que me resta?

Quando a gente fica velho, ainda lúcido e capaz, costumamos pensar na vida, no que passou, tempos atrás.

Pra onde foram meus vinte anos? E aquela criança que morava em mim? Tempos se foram. Anos, meses, dias se perderam na bruma do tempo. Adeus infância perdida. Que os anos não trazem mais.

Aos quase setenta anos tenho muito do que me lembrar. Principalmente dos meus pais. Que não apenas me deram a vida como muito mais.

Da minha infância guardo as melhores recordações. Foi aqui pertinho que deixei de ser menino. Foi naquela mesma rua, que daqui se avista parcialmente, já que uma névoa densa recobre quase completamente todo o entorno que passei os melhores dias da minha vida. Não tenho do que me queixar do momento atual. Embora a saudade me empape os olhos. Pensando justamente naqueles idos anos.

Estudei naquele mesmo colégio onde hoje estuda meu primeiro neto. De vez em quando o levo até lá. Que saudades daquelas alamedas ensombradas. Hoje perambulam sombras do meu passado.

Antes era apenas uma criança brincando. Aquele velho clube, da minha idade, continua quase do mesmo jeito. A piscina foi remodelada. Não tão profunda como era antes. As quadras de tênis ali estão. Só que o jovem que eu era não joga mais.

Os tempos são outros. De mim menino só resta o fascínio das brincadeiras que mudaram tanto. Naqueles idos anos não existia a internet. Costumávamos brincar de jogar finca. As bolinhas de gude, multicores, eram as brincadeiras de mim então menino.

Hoje apenas me restam as lembranças daqueles tempos bons. Pena que a gente envelhece. O nosso tempo, aqui na terra, é limitado. Contamos as horas para a despedida que um dia vem.

O que me resta, daqui em diante? Curtir os anos que ainda tenho? Ou apenas ficar a espera do minuto final. Quando alguém me fechar os olhos. Quantas lágrimas irão rolar? Quantas pessoas me irão prantear?

Hoje quase não penso na morte. Estou cheio de vida. Repleto de saúde. Carrego no peito a esperança de viver muito mais.

Não vivo pensando no dia seguinte. Nem no que passou. Tempos atrás. Conforta-me saber que a felicidade por ainda estar vivo me satisfaz.

O que me resta, quanto tempo mais viverei, só o futuro vai dizer. Conquanto seja feliz é o que importa. Ao lado daqueles a quem amo. A quem possa dedicar um cadinho de mim.

O que me resta, de hoje em diante, não faz parte dos meus planos vaticinar.

Deixo ao futuro a incumbência de dizer o que me vai acontecer. Vivo o momento presente. Como um presente que me foi dado não sei por quem.

O que me resta só a mim importa. A outrem não incomoda.

Só sei dizer que sou feliz dentro da minha infelicidade costumeira. Sou feliz a minha maneira. Alegre de quando em vez. Nostálgico de vez em quando.

Hoje o dia se mostra nublado. Da mesma forma que minhalma se ensombreia.

Talvez seja por este motivo que ando pensando tanto na vida que tenho levado. Nesta manhã quase madrugada. Deste final de maio. Dia do aniversário do meu filho. Quando ele completa seus quarenta anos.

Seja feliz Stenio. Que Deus o ilumine sempre. Abraço-o, através deste texto, seu pai, que o considera tanto.

O que me resta, daqui pra frente, é viver sempre pensando no que fazer no dia de hoje. O amanhã, não conta.

Sou feliz graças à família que me ampara sempre que preciso dela. O que seria de mim sem ela? Nada mais restaria de mim. Nem ao menos as lembranças.

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