Gostaria de ver ressurreto

A semana santa deixou pra trás um rastro de lembranças antigas.

Diz a bíblia que Jesus foi imolado na cruz. E que ele ressuscitou dias depois. Foi ao céu. De onde olha seus filhos com olhares de comiseração. E perdoou-os mesmo depois deste ato tresloucado. Da mesma forma que um pai perdoa a um filho. Mesmo depois de ingratidão e injúrias perversas. De tê-lo abandonado quando mais precisava de seus cuidados.

A ressurreição de Cristo se deu num dia longínquo. E ainda há quem não acredita em Deus.

E eu, na minha descrença, acredito Nele em diversos matizes.

Nos pássaros que avoam. No luz do sol que hoje lambe a terra. Na chuva que parece ter dado trégua. No sorriso de uma mãe que vê a cria pela primeira vez. Na bondade humana que ainda existe. Da mesma forma na falta de carinho que por vezes encontramos pela vida afora.

Hoje acordei a mesma hora de sempre. O relógio de cabeceira marcava antes da seis da manhã. O dia se mostrava claro. Nenhuma nuvem no alto. Neste outono que nos encontramos parece que o frio vai tardar mais um pouco.

A páscoa se foi. Da mesma forma que a semana santa passou. Os ovos de chocolates continuarão a adoçar as boquinhas das crianças. Para algumas elas continuarão amargas. Dado a miséria que infelizmente grassa neste mundo tão desigual.

Nesta manhã, feericamente iluminada, o clarume do sol ofusca-me a menina dos olhos, acordei pensando no que me foi passado na semana santa. Na ressurreição de Cristo. Na sua imolação na cruz do calvário. No sofrimento que Ele me inspirou. No sorriso de dor que vi na sua face crispada quando ele se desprendeu da cruz.

Foi hoje, nesta segunda-feira depois do feriado, que meus pensamentos vagaram para longe.

Bendita infância. Doce esperança que a gente tinha. Num mundo melhor. Mais fraterno.  Menos díspare.

Gostaria de ver ressurreta a inocência de antão. As brincadeiras eram outras. Ainda não existiam os computadores. E a gente era feliz mesmo assim.

Da mesma forma que gostaria de ver ressurreta a alegria das pessoas nas ruas. Quando ainda o desemprego não nos incomodava tanto. Quando os pais de família podiam sustentar suas proles. Sem se preocupar com a crise que assoprava forte.

Como gostaria de ver ressurreta a retidão de quem nos governa. Hoje quase todos são corruptos.

Apreciaria, e muito, de ver ressurgir das cinzas a vontade de ajudar a outrem. Sobremodo as crianças desamparadas. E não apenas fossem feitas campanhas solidárias. No entanto as mesmas crianças ainda continuam desassistidas pela sorte.

Gostaria de ver ressurreta a amizade verdadeira. Não apenas aqueles que se dizem amigos de verdade. Mas quando mais se precisa eles nos deixam a ver navios. Cada um per si. Pensando na própria sobrevivência.

Como gostaria de ver ressurreta a verdade campear em terras brasileiras. Hoje quase não se pode confiar nas pessoas. Movidas interesses mesquinhos. Interesseiras, vis, sorrateiras.

Gostaria ainda de ver ressurreta a bondade irradiar como o sol que hoje ilumina esta segunda-feira. Ela quase não existe mais. Tomara esteja equivocado.

Gostaria, e muito, de ver a verdade prevalecer sobre a falsidade. Quem sabe ainda verei. Nestes anos que me restam.

E como gostaria de perceber, nem que seja por um átimo, o amor prevalecer, sobre o desamor que campeia nestes tempos difíceis que estamos vivendo.

Da mesma forma gostaria de ver ressuscitar a alegria de viver. Mesmo quando os tempos se mostram cinzentos. Quantas receitas tenho de prescrever de medicamentos de tarja preta. Como a depressão tem sido prevalente nos tempos atuais.

Hoje, semana entrante, dia posterior à semana santa, assistimos ao Cristo ser sepultado. Depois ele ressuscitou.

Tomara ainda possa ver, nestes anos que me restam, tantas coisas boas serem ressurretas.

Tenho esperança que ainda irei ver. A esperança renascer, dentro de cada um de nós.

Não apenas a ressurreição de Cristo. Bem como a alegria de viver.

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