A primeira vez

Antoninho nunca, em sua vidinha curta, havia feito uma visita ao médico.

Completados quinze anos naquele começo de primavera o jovem imaturo era assaltado de dúvidas sobre seus órgãos genitais.

Talvez por vergonha aos pais não colocasse os problemas que o afligiam a mesa a hora das refeições. E olha que eram coisas importantes. Como fazer para começar as relações sexuais. E seu órgão copulador? Seria normal? Pensava Antoninho que seria pequeno demais.

Muitas indefinições martirizavam o jovenzinho. E, se na primeira vez aquele instrumento de dupla função, não subisse como a pipa que uma vez empinou? E se a garota experimentada, assim que ambos se vissem desnudos, ao acariciar-lhe o pênis, dali saísse um líquido gosmento, era uma coisa que nunca havia sentido antes, como fazer para continuar o sexo?

E seus testículos? Faltava um na bolsa escrotal. Onde estaria escondido? Foi por falta de fazer uma visita ao pediatra, no tempo devido, que um dos testículos ficou retido mais acima de onde deveria. E qual seria a consequência de tal ato falho? Seria capaz de dar netos aos pais?

Depois da primeira vez, com aquela menina rodada, uma semana depois algo de novo apareceu no seu pintinho ainda inexperiente. Algumas verruguinhas, como se couve flores novinhas, acabaram com seu sossego. E logo foram esparramando. Tomando conta da cabeça do seu membro, em pleno desenvolvimento.

Foi na semana passada que ele me procurou. Marcou consulta com um nome falso. Aqui apareceu sem a companhia de nenhum dos responsáveis.

Bastante encabulado, poder-se-ia dizer avexado, Antoninho adentrou a minha sala, pé ante pé.

Foi preciso paciência de padre para tirar dele algumas palavras. Ele continuava mudo. Quase uma estátua defronte a mim.

Numa tentativa inglória de quebrar o gelo brinquei com o menino: “o que o traz aqui, simpático consultante”?

O rapazola parece ter simpatizado com minha pessoa. Pelo menos pensei assim.

Depois de quase dez minutos Antoninho falou: “doutor, esta é a primeira vez que consulto um médico especialista. Confesso-me analfabeto no que diz respeito ao sexo. Penso que meu pênis é pequeno demais. E passo vergonha sempre que vou ao banheiro da minha escola. Agora, semana passada, depois da primeira relação, eis que apareceram algumas coisinhas miúdas por dentro da pele que recobre a cabeça do meu pênis. E essas coisas agora quase tomam conta do meu órgão inteiro”.

Senti certo alívio por ter conseguido ganhar a confiança do menino. Levei-o a sala de exame. Estávamos apenas eu e ele.

Uma vez desnudo, depois de alguma hesitação, Antonino mostrou a razão do seu incômodo.

Uma fimose verdadeira, daquelas figuras de livro de urologia, impedia de deixar de fora a glande do menino.

Foi preciso muito esforço e poder de convencimento para que Antonino fizesse a tão libertadora operação.

Marcamos para a semana seguinte. Depois de conversar com seu pai, como ele bastante desinformado da situação do filho.

A cirurgia correu às mil maravilhas. Não apenas livrei-o de sua fimose como também eliminei as verruguinhas motivo da consulta.

Um mês se passou.

Antonino retornou ao consultório. Feliz da vida. Agora, depois da primeira consulta ao especialista, nunca mais passou por problemas semelhantes.

Daí a minha recomendação aos jovens incautos. Acautelem-se.

A primeira consulta ao urologista deve ser feita antes dos quinze anos. São muitas as doenças que acometem os jovens. A maioria desconhece o próprio corpo.

E não custa nada prevenir-se de doenças que podem ser curadas em tempo hábil. Depois pode ser tarde.

Antonino, e tantos outros, são exemplos marcantes do quanto os jovens devem ser bem orientados. Quando a orientação falta em casa, que tal uma visita ao médico? É uma visita rápida. Que, na maioria das vezes salva vidas.  E traz felicidade não apenas aos jovens. Como aos velhos que um dia serão.

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