O rapidinho que não era

Por vezes a ansiedade e imaturidade contribuem para o insucesso de um ato falho.

Mal sabem eles que o prazer advindo com o sexo independe de tais fatores.

Quando jovem ainda, imberbe e refém da inocência perdida depois, só de ver uma jovem semidespida nem tempo tinha para pensar. E logo terminava com uma mancha clara na parte mediana das pernas, o que me fazia corar a bochecha, com medo de os outros pensarem o óbvio. Corria a minha casa para trocar a cueca. E não tirava dos pensamentos aquela quase menina em cueiros, que me levou a ejacular prematuramente.

Com o tempo passando, anos montando-me às costas, tal fato não se repetiu mais. Agora sou capaz de esperar a hora certa para ir ao delírio, como fazer delirar minha querida parceira, com quem subi ao altar.

Isso só o tempo ensina. Os anos contam, e muito, no prazer que o sexo traz.

Uma das queixas mais comuns que aparecem no consultório de urologia é a tal ejaculação precoce. Principalmente aos jovens elas acometem.

Dizem os compêndios de medicina que tal fato é quando o orgasmo, que é a sensação de plenitude máxima que ocorre ao final do ato, dura menos que a florada dos ipês. Alguém pode me perguntar quanto dura tal maravilha. Bem pouco, como podem ver neste agosto que tem seu começo. Ainda vivas as flores caem. Sob a relva ressequida tinta em cinza.

O tempo varia de cada um a cada um. A ejaculação para ser considerada prematura deve ser antes de se atingir um minuto. Ou antes da penetração acontecer aquela sensação maravilhosa se despede de vez. Levando a insatisfação do casal.

Quando esta efeméride vira rotina tudo vai mal. E pode levar a dissolução daquela relação que tudo tinha para dar certo. E pela velocidade do acontecido quantas vezes tenho assistido a infelicidade geral.

Ontem me procurou no consultório um rapazola ainda mal entrado nos seus vinte anos.

Portando óculos de lentes grossas, na cabeça um boné ao viés, clarinho como noite sem lua, alto o bastante para trocar lâmpadas sem escada.

Assentou-se a cadeira a minha frente. Um tanto avexado para me contar a sua história.  A mãe ficou na sala de espera. Atenta a saída do seu rebento.

Ele gaguejava às primeiras palavras.  Foi preciso tranquilizá-lo para continuarmos a prosa.

Depois de alguns minutos em silêncio foram estas suas primeiras e únicas palavras: “doutor, não sei mais o que fazer para conter o orgasmo. Só de pensar já aconteceu. E quem leva a pior sou eu. Esta é a undécima namorada que já passou por minha cama. Tenho receio do que o futuro me reserva.”

Ouvi atentamente aos seus queixumes. A seguir um silêncio sepulcral nos fez seguir adiante.

Cada um ao seu canto, foi preciso muita paciência para continuar a confissão da parte dele.

Neste ponto da consulta já se passara meia hora.  E outro paciente ansioso esperava a sua hora.

Foi quando, depois de ganhar-lhe a confiança, foi preciso ir ao encontro de seus poucos anos, relatando que também acontecia a mim mesmo, na tenrice da mocidade, quando ele, de nome Juninho, explicou-se que a sua precocidade durava quase meia hora.

Quase caí desta cadeira onde escrevo. Meia hora para ele era precocidade pura. O que para outros era uma eternidade imensa.

Depois de tentar fazê-lo entender que era mais que normal a duração de seu ato sexual, que quase ninguém consegue retardar tanto o orgasmo, após levá-lo a sala de exame para constatar que não tinha fimose, seu pênis era de tamanho normal, nada de errado ele trazia de berço, Juninho levantou-se da cadeira placidamente aliviado.

Agradeceu-me o esclarecimento. Penhoradamente sorridente.

Já hoje, pensando no caso daquele jovem paciente, entre tantos que me procuram com as mesmas queixas, deixo aqui, registrado, como conduta de vida, este conselho aos jovens.

Não se preocupem com a duração de seus atos sexuais. As preliminares são fundamentais. Da mesma forma que o amor atrai. Na próxima vez tente novamente. Refreiem a sofreguidão de sempre. Lembrem-se do caso do Juninho. O rapidinho que não era. Ao contrário, quem me dera que meu ato falho fosse do tamanho do daquele rapazola simpático que aqui apareceu na tarde de ontem. E ele saiu feliz da vida sabendo que a velocidade de atingir o ápice, no seu caso, era de uma rapidez imensa. Não daquela velocidade com que as flores dos ipês caem, na prematuridade de sempre.

 

 

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