A culpa é do Zé Mané

Temos, no Brasil, a mania nada elogiável de atribuir culpa pensando unicamente nos que estão acima de nós. Exemplos pululam por aí: ao ver a rua suja de papeis e outros detritos a responsabilidade recai às costas da equipe de garis da prefeitura. Quando um buraco, poeira, lama em tempos de chuva, e como ela é bem vinda nos ares campesinos, melhor ainda quando cai macia a tintar de verde a natureza com seu adubo dosado na medida certa pelo Papai do Céu, mostram-se aos nossos olhares críticos, a quem culpamos? Novamente aos irresponsáveis responsáveis pela limpeza urbana. E quem fica no comando? Qual o general, que seja o brigadeiro, não aquele doce gostoso, no qual sou viciado, que logo é execrado, enxovalham-lhe a honra da mãe, como no caso do árbitro de futebol, que, ao apitar um gol do time visitante logo pede a proteção da polícia, que não lhe faz caso, e o pobre apanha que nem condenado por um crime o qual apenas muito depois descobriram-lhe a autoria. Não foi ele quem roubou a galinha gorda do vizinho, e sim o deputado inimputável perante a lei, por gozar de foro privilegiado.

Zezinho, desde novinho, pobrinho, sempre teve uma ambição em sua vidinha poder-se-ia dizer miserável.

A política lhe atazanava as ideias. Desde priscas eras antigas.

Na escolinha onde aprendeu as primeiras letras não podia ver um banquinho que logo subia por sobre o tampo. Juntava uma pequena plateia a aplaudir-lhe as falas. E como falava mentiras o jovenzinho.

Prometia, já bem mais andado em anos, na campanha para vereador, tirar os garotos sem teto das ruas. Dar-lhes educação decente. Habitação de qualidade. Roupas bordadas com suas iniciais – Z M ( Zé Mané). Tênis de marcas famosas, para que pudessem correr como um certo doutor Paulo Rodarte, urologista metido a corredor, que, aos quase setenta ainda corria mais que muitos carros de motores fundidos.

Quis o destino que Zé Mané foi eleito edil. Com uma votação expressiva, mais de mil votos. Foi o segundo colocado entre os dezessete postulantes ao cargo.

Na porta da sua casa filas imensas se formavam. Reivindicações várias eram feitas, se não por escrito, através de um auto-falante possante, no qual vociferavam vozes dissonantes. E nada de o tal vereador, recém-guindado ao posto na câmara municipal se preocupar com as promessas mirabolantes da campanha, sobre a qual diziam ter sido uma maracutaia danada. Fração significativa de votos foram em verdade trocados por sacos de cimento, balaio de jabuticabas por madurar, e broas de milho feitas na semana passada.

Mas, como em nosso Brasil à deriva sábio dito foi dito que o povo não sabe votar, Zé Mané, depois de uma vereança pífia, da sua pena não saiu nenhum projeto em benefício do povo local, eis que, anos depois, na eleição para autoridade maior do município, pasmem! Adivinhem quem foi elevado ao cargo de prefeito municipal?  Não foi senão outro que o safado e mal falado Zé Mané.

Acontece que, por ironia do destino, após assentar-se àquela cadeira de espaldar alto, na sala da prefeitura onde confere as nádegas ao assento o prefeito, Zé Mané tomou jeito.

Nunca vi, com esses olhos que muito enxergam, por isso escrevo tanto, alguém mudar radicalmente de conduta. Zé passou uma borracha em seu passado de incapaz de gerir nada além da sua vida errática de baladas e festas de arromba. Parou de beber cachaça. Leite branco da vaca preta passou-lhe a ser a bebida preferida. Passou a frequentar academia com tal assiduidade que a volumosa barriga encolheu, ficando em seu espaço uma negativa. E como ficaram volumosos seus bíceps, tríceps e outros mais.

Durante os primeiros dois anos da sua administração profícua mudou a cara das cercanias. Antes abandonadas e recheadas de ruas esburacadas e com incontáveis obras por terminar.  Reformou escolas. Instalou novas unidades de atendimento pelo SUS. Acreditem se quiserem: até a saúde melhorou.

Mas, no meio da sua administração irretocável, assim que entrou o período chuvoso, como caiu água na face da terra seca!

As ruas se viram de repente com verdadeiros ribeiros correndo soltos nos meio fios. Acontece que os cidadãos, sem espírito coletivo, jogavam lixo não no local apropriado. E sim nas ruas, no asfalto novo. As bocas de lobo, recém desentupidas pela administração de Zé Mané, por falta de decoro da população logo cedo ficaram lotadas de sacos de lixo pretos como a alma de certas pessoas.

Hoje desci a rua bem cedo, como de costume. Parei perto de um barzinho onde antes tomava meu desjejum frugal. E acabei ouvindo injúrias pesadas a atual administração.

“ Olha, Seu Chico. O prefeito safado não limpou os bueiros. Não tapou os buracos. Não recolhe o lixo. Nada fez pela saúde pública. Ontem minha sogra, aos mais de cem anos, por uma dor de barriga forte, foi procurar um posto de saúde a meia noite e o encontrou de portas fechadas. É um acinte a nós, que pagamos impostos. E nada recebem em troca. Temos de tirar o Zé Mané, antes que o mal fique pior”.

Desci a rua pensando no país onde vivemos. Lindo que é.

De quem é a culpa pela situação vigente? Seria do infeliz Zé Mané?

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