Que nome dar ao meu neto?

Essa questão de nomes tem deixado de cabelo em pé os donos de cartórios de registro de nascimento. É cada um que aparece, logo é mudado, ou encurtado, ou solenemente olvidado.

Quando se nomeia um bebezinho, nascido na roça, em noite de lua nova, os pais, marinheiros de primeiro parto, podem registrar no cartório o primeiro rebento de: Cara de Lua, De Bunda pra Lua ou coisa pior. Ou, conforme me foi dito por um tio maldito, que deixou a mulher embarrigada assim que descobriu que o filho poderia não ser dele, mas era, a criança nasceu no dia da pobreza absoluta. Sabem qual foi o nome dado à criança? “Pobrinho de dar pena”. E o tal enricou tanto, tanto, tanto, que foi preso ao virar deputado, cassado por receber propina, no propinoduto do senador que fez implante de cabelo, voou à clínica do doutor especialista em jato pago por nós, passou dois meses de licença médica, e ainda jura que não foi nada disso.

Na roça de onde trago histórias sobre a vida no campo, que coisa boa é passar os finais de semana entre vacas e galinhas, entre cavalos e horizontes infinitos, comendo aquela comidinha feita no fogão a lenha, que nunca esfria a exemplo da feita no a gás, nadando na cachoeira onde foi pilhada num flagrante que até hoje ela nega, uma linda fêmea pelada, de bunda arrebitada, seios fartos como a mesa do jantar da minha avó, a ver os estertores finais do porco capado antes de ser esfolado, fatiado em partes menores, para ser comido depois, lambendo os beiços depois do choriço bem feito, da linguicinha feita no capricho, naquelas tripinhas lavadas na água que brota da mina, pura, um jovem garoto, nascido neném, foi batizado de Miúdo de Porco Misturado ao Choriço, nomúnculo que foi reeditado para Porquinho Capadinho. Apelidado Espírito de Porco.

Assim caminha a humanidade da desumanidade pura.

Nomes esdrúxulos desinfeitam o cabedal de coisas estapafúrdias, num caderninho que descobri, na quarta-feira de cinzas, foi antes de ontem, num baú de guardados da casa onde morava meu avô.

Na mesma agenda da qual ele, o velho bonzinho, que andava vestindo um terninho azul marinho, uma camisa branca poída no colarinho, um suspensório marrom, a ele batizaram de Rodartino Rodarte, nos pés andarinhos uma sandália de couro de vaca morta por culpa de um amor pelo touro não correspondido, se podia ler, na derradeira página, uma pequena história que reconto agora.

Ele, meu avô Rodartino, casado com uma santa, de nome Umbelina (Belica, para os íntimos), morava onde hoje é o edifício nomeado em sua honra por meu pai, edificador da obra. A duras pelejas. Ainda ontem passei por lá.

A historinha na qual ontem passei os olhos, embevecidos de saudade e de boas lembranças, contava um caso supimpa.

Um avô, dos tempos idos, quando os tais telefones andejos não existiam (agora chamados de celulares, smart phones, e coisas afins) , teve um filho esperto.

Esse mesmo filho amasiou-se com uma mulher mais esperta ainda. Foi então que nasceu um casal de espertalhões.

Foi então, num dia de verão, quente, de muita chuva, coisa que na cidade incomoda, na roça faz o homem do campo sorrir exibindo na boca a banguelice do descaso e da falta dos pais mandarem a criança ao dentista, dos dois sabichões nasceu uma criança linda. De apgar altíssimo, mais de dez.

Findou-se o primeiro mês e nada de levarem à pia batismal a cria linda e espertinha. Que só não andou de imediato pois teve as duas perninhas enroladinhas ao cueiro, que hoje não se usa mais.

Aos três meses, ainda não batizado, o menino, ao ver o celular do pai, nasceu-lhe um brilho estranho nos olhinhos claros. Ele, ainda sem nome, simplesmente o amado vô o chamava de Meu Neto, aprendeu rapidinho todas as funções do aparelhinho de último tipo (menos de um ano depois nasce um mais moderno, com mil e cem funções, que nem sei nomeá-las).

Aos dois anos, ainda sem nome, o menininho espertíssimo acabou aprendendo a usar com maestria de mestre todas as funções do i-phone sete, o de mais gigas de memória, como se fosse um profissional doutor da informática.

O WhatsApp, o Instagram, o Face, o Messenger, o tal Outlook, o Spotify, a Câmera, os mapas, o calendário, as fotos, o relógio, o tempo, as notas, o App Store, os contatos, o Safári, os aplicativos outros, o Face Time, a calculadora, os Podcasts, o QR Reader, o You Tube, logo foram dominados pelo garotinho ainda sem nome. Até então era desnomeado o pobrezinho.

Foi num dia de lua linda, o céu cheio de estrelas, sem nenhum prenúncio de chuva, que os pais da criança sem nome, depois de muito lucubrarem, resolveram, em comum raciocínio, dar nome ao boizinho.

“WhatsApp Instagram Face Messenger Outlook Spotify Câmera Mapa Calendário Foto Relógio Tempo Notas App Store Contatos Safári Aplicativo Face Time Calculadora Podcasts QR Reader You Tube da Silva Cruz Credo”.

Um dia meu primeiro neto nasceu. Foi quando pensei qual o nome dar a ele.  Como não sei usar tudo, nem a terça parte, do que está inserido no meu I Phone, acabei por sugerir aos seus pais o nome Theo.  Simplesmente muito melhor que o outro, bem mais complicado.

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