O conceito de importância varia.
Pro homem do campo a chuva tem relevante importância.
Pra quem vive na praia o sol tem seu lugar.
Pra todos nós a vida fica em primeiro lugar. Mas a morte um dia chega. E ela da mesma maneira tem sua importância. Pois o que seria desse mundo apinhado de gente. Quando se nasce e não se morre. Por certo iria faltar espaço pra tantos moradores.
Importante, pra mim. Que assume papel relevante no meu existir. É como tenho feito. Acordar bem cedinho. Aqui chegar às madrugadas. Deixar sair de dentro de mim a inspiração que me cavouca a alma. E escrever sempre. Amontoar textos nesse computador. Até quando tiver coragem de editar mais um livro.
A importância varia de pessoa em pessoa. Tem gente que da importância aos engravatados. Aqueles indivíduos letrados. Que tiveram a sorte de se graduarem em universidades. Mas se esquecem daqueles de mãos cascorentas. Que nessa hora temprana já de muito acordaram. Trabalham a terra. Fazem do leite seu sustento. Engordam porcos até ficarem obesos. Criam galinhas e colhem seus ovos. O que seria da gente sem o povo da roça? Pequenos produtores que não se desgrudam das enxadas. Tem pelas vacas um enorme chamego.
Dou importância a quem vive a vida ensinando aos outros. Aos professores a minha admiração. Foram eles que despertaram em mim o prazer pelas letras. Depois de aprendê- las não parei mais de escrever.
Dou importância ao ar que respiro. As minhas narinas ressentem-se da falta de ar. Sobretudo nesses tempos de seca. Da mesma maneira valorizo a chuva que cai no tempo certo. Desde que seja em intensidade moderada. E não faça estragos desabrigando pessoas como tem acontecido no sul de nosso país.
Quando se trata de gente dou valor a qualquer um. Não que tenha maior valor aqueles endinheirados. Ricos e abastados. Já que a miséria ofende-me o decoro. Os desníveis sociais agridem-me o bem senso.
Um dia percebi. Numa mesa de bar. Pessoas discutindo sobre a importância de cada um.
Uns davam importância aos políticos que nos dirigem. Outros valorizavam atletas de futebol. Terceiros davam importância aos professores. Já quartos falavam maravilhas dos tais influenciadores digitais.
Num certo ponto da prosa esperei a conclusão da celeuma.
Foi quando entrou na conversa um que pensava diferente.
Enquanto discutiam ele permaneceu calado.
E contou a história que reconto agora.
Numa pequena comunidade viviam três pessoas ditas importantes.
Um era um coronel. Dono de uma fazenda de dimensões pecaminosas. Era um latifúndio bastante produtivo. Só de gado se contava milhares. Plantações se perdiam à distância. A casa da fazenda mais parecia um resort de tão grande e paradisíaca. Era dono de uma fortuna sem igual.
O segundo era um advogado vitorioso nas causas que defendia. Ele era considerado mestre na sua profissão. Um dia foi guindado a juiz. De ai passou a ser julgador nas esferas da suprema corte. Tudo por mérito próprio.
A importância devida aos dois seria difícil de dizer qual teria maior valor. O primeiro por sua fortuna. Já o segundo por sua importância de julgador.
Foi quando entrou no causo um terceiro personagem.
Era um médico cirurgião, de origem modesta, que se desdobrava em intermináveis plantões. De hospital em hospital varava noites indormidas tentando salvar vidas. E percebia salários irrisórios.
Doutor Zé não tinha férias desde que terminou a residência. Conclusa com louvor num centro médico de ótimo conceito.
Naquela semana não teve um dia sequer de descanso. Operava num hospital e logo saltava a outro.
Ao vê-lo chegar fatigado, com os olhos tintos de sono. As pessoas que proseavam sobre a importância de cada um. Comentando se seria a do fazendeiro próspero. Ou do magistrado do supremo tribunal. Todos olharam em direção ao doutor Zé, emérito cirurgião.
E pediram a sua opinião.
Doutor Zé, José da dona Marcelina. Filho único de gente simples da roça. Depois de mais uma noite indormida. Tendo operado a noite inteirinha. Singelamente assim se expressou: “não sei dizer. Tenho trabalhado tanto. E ganhado tão pouco. Não sei qual deles tem a maior importância”.
Deixei a aquela conversa sem dar a minha opinião. Dentre aqueles três a importância devida deve ser dada a quem cuida da gente. Sem pensar no pago que recebe.