Se me fosse dado a escolher

A vida é feita de escolhas. Já me disseram.

A gente não escolhe onde nascer. Crescemos sem poder escolher quantos anos mais iremos viver.

Vivemos tantos anos tentando escolher qual a parceira iremos eleger para nos acompanhar vida afora.

No entanto, essa escolha talvez não seja a mais acertada. Deparamo-nos, anos mais tarde, que não acertamos. E a escolha foi equivocada. Mas sempre há tempo para corrigirmos o logro. Mas como é difícil voltar atrás. Já que o tempo não retrocede. E aquela menina moça hoje se tornou avó. E não mais podemos ir atrás dela já que ela mesma me disse essa frase: “a vida é feita de escolhas. Seja feliz a partir de agora. A gente não deve se arrepender da escolha feita. Pense bem antes de tomar a decisão.”

Eu elegi continuar minha vida tomando rumos pra mim conhecidos.

Mas o desconhecido acabou me tomando as rédeas. E acabei enveredando-me por trilhas tortuosas.

Antes, bem antes, nos verdes anos de outrora. Antes de completar trintanos. Já graduado na profissão eleita pra mim como o melhor caminho. Decidi-me consorciar com uma pessoa que hoje me acompanha há quase uma vida. Creio ter sido uma decisão acertada. Embora outros caminhos me cortejassem foi ela que elegi como minha esposa. Não me arrependo. Sem ela talvez não fosse o que hoje me tornei.

A vida é feita de escolhas. Umas acertadas outras equivocadas.

A gente não escolhe o que nem quem seremos no futuro incerto. Nosso destino não sei onde ele se esconde. Talvez seja melhor assim.

Se por ventura soubéssemos o que nos reserva adiante talvez não errássemos tanto. A indefinição é o que confere cores a vida.

Já decidido por qual caminho percorrer anos se foram. Acabei me tornando um médico que escreve. Quem seria eu se por acaso meus dias não fossem preenchidos por tanta inspiração que me cavouca as entranhas? Um mero esculápio ainda não aposentado por completo. Um madrugão que preenche seus dias entre o ócio das madrugadas frias como a de hoje cedo. E doutras aquecidas pelas idéias amalucadas que percorrem minhas entranhas?

Se me fosse permitido escolher em qual família me criar diria que seria a mesma que me deu a vida. Não seria outra senão aquela. E a outra, que ajudei a dar formas, da mesma maneira seria a eleita a ocupar esse espaço chamado coração, recheado de sentimentos. E como amo meus filhos. E meus netos são a extensão daquilo que sou. A continuação de mim mesmo. Quando não mais esiver por aqui.

Se me fosse dado a escolher os caminhos que tenho trilhado talvez, pensando melhor, teriam sido os mesmos. Quem sabe cometeria menos senões. E acertaria muito mais.

Se me fosse permitido escolher qual profissão seguiria a mim responderia: “sem dúvidas. Seria essa mesma.”

Se me fosse facultado escolher pra onde iria a partir de hoje não saberia dizer com certeza. Quem sabe mais tarde. Enquanto meu tirocínio souber quem sou eu. Saberia responder com exatidão.

Se por ventura alguém me perguntar se me arrependi de atos praticados tenho certeza que não incorreria nos mesmos senões. Já que errar faz parte da natureza humana. Mas persistir no logro nos aproxima de seres irracionais.

Se me fosse dado a escolher onde gostaria de viver. Até o resto dos meus dias.

Não pairam dúvidas dentro de mim.

Não seria na cidade que me viu nascer. E sim nesta que amo tanto. A linda Lavras que me viu crescer.

 

 

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