Às claras na escuridão

Visão.

Trata-se de um dos cinco sentidos que permite aos seres vivos dotados de órgãos adequados, aprimorarem a percepção do mundo.

Pra mim essencial. Já que meus olhos enxergam além das entrelinhas.  Permitindo-me ver além das palavras. Seu sentido exato. E outros que imagino. Graças à faculdade que aprendi. Já que alinhar palavras tem sido uma constante em meu viver. Não sempre. Creio que tudo começou há vinte e quatro anos atrás. Já que a primeira crônica que saiu da minha mente irrequieta foi na noite do passamento do meu querido pai.

Quem sabe não sou eu quem escreve? Se psicografia pode ser entendida por quem nela crê? Quem saberia dizer. Se lá do alto meu saudoso pai dita as palavras por mim grafadas. E eu simplesmente obedeço ao seu ditame. Já que são tantos escritos que eu mesmo acredito não ser capaz de tais feitos.

Visão. Pra mim um sentido essencial para continuar vivo.

Se porventura de uma desventura vier a ser privado de tal faculdade, por favor, alijam-me dessa vida. Não sei caminhar na escuridão.

Tenho pelo negrume das noites uma ojeriza imensa. Prefiro o clarume dos dias ensolarados. O sol que adentra pela minha janela me faz falta. A cinzentice dos dias nublados me incomoda.

Já meu amigo Cláudio, o qual sempre percebo a caminho de minha roça, é um exemplo vivo que a cegueira não incomoda.

Ele nasceu desprovido da visão. De olhos baços ele caminha na escuridão.

A luz do sol não lhe faz falta. Ele enxerga tudo escuro. Mas o bom humor lhe serve de bengala. Ele faz tudo que gente que enxerga faz. Ainda melhor diz ele pilheriando de sua vidinha singela.

Tira leite e faz fubá. Naquele moinho tocado a um rego d’água.

Piadista de mancheia. Ele diz que tem um dúzia de namoradas. Recusa carona, pois não anda de carro. Caminha em plena noite alta. Sempre em boa companhia de uma vara para afugentar mal olhados.

Claudio diz não ter tempo ruim. Sempre a sorrir na sua banguelice tagarela.

Quando paro perto dele estendo-lhe a mão. Apresento-me. Embora ele já saiba quem sou eu pelo timbre de voz.

Pra ele a visão não é um sentido fundamental. Ele dispensa óculos. Não carece ir ao médico dos olhos. Tem uma saúde de ferro forjado em brasa.

Se perguntarem ao Cláudio que cor é essa. Ou aqueloutra. Ele dirá com certeza: “pra mim tanto faz. Como se desfaz. Já que eu ando sempre às claras na escuridão”.

Conquanto pra mim a visão seja essencial pro amigo Cláudio outros valores contam muito mais.

 

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