Nem sempre

Hoje exagerei no acordar tão cedo.

O céu estava escuro do lado de fora da janela. Mal se viam estrelas. A lua decerto dormia naquela hora tão temprana.

Uma garoa fininha despencava do alto. A escuridão dominava a rua.

Era mais ou menos cinco e meia. Quase madrugada.

Nem o pontual porteiro do prédio havia chegado. Por sorte trazia a chave do edifício. Entrei sorrateiramente. Ao tomar o elevador uma surpresa indigesta me fez recuar. Ele não subiu. Fiquei preso naquela engenhoca que sobe e desce sem parar. Decerto ele fazia greve.

Nem sempre as coisas acontecem como a gente deseja. Por vezes a vida nos faz pensar em repensar as coisas. Nem sempre somos donos de nossa vontade. E ela vai de encontro aos nossos desejos.

Nem sempre a chuva cai. Por vezes o sol inunda a terra com seus raios iluminados.

Nem sempre a vida nos sorri. Às vezes ela mostra uma carranca triste e acabrunhada.

Nem sempre. Uma expressão sinonímia de malmente. Poucas vezes, de vez em quando.

Nem sempre sou capaz de fazer tudo aquilo que era capaz na juventude. Os anos pesam nos meus costados. Mas nem por isso desanimo. Tento, retento, e acabo fazendo certo.

Se disser que nem sempre fui feliz enveredo-me por outro caminho. Procuro a felicidade em cada esquina. Em outra rua. Em outra morada.

Nem sempre acerto nos meus acertos. Equivoco-me sem perceber. Errar uma vez faz parte da natureza humana. Reincidir no erro nos aproxima dos animais irracionais.

Nem sempre morei aqui pertinho. Mudei de residência há tempos idos.

Nem sempre chorava em criança. Hoje choro por qualquer motivo. A razão de tantas lágrimas se chama sensibilidade. Ela aflora dentro de mim como águas revoltas depois de uma tempestade.

Malmente chego antes da hora. Quando isso acontece algum imprevisto deve ter sucedido.

A pontualidade me domina. Sofro por isso.

Nem sempre enxergo a luz ao final do caminho. Às vezes ele escurece e meus olhos mal vêem.

Nem sempre fui como sou. Dantes era mais arredio. E não tolerava brincadeiras de mau gosto. Agora, que já acumulei anos, pra mim tanto faz como tanto se desfez.

Não digo mais que nem sempre. Pois amanhã pode ser diferente do hoje. Pois hoje chove. Amanhã a chuva pode parar.

A incertitude me domina. A indecisão me consome.

Nem sempre ao céu nem sempre a terra. Pra algum lugar iremos. Numa data nem sempre esperada.

Nem sempre estarei por aqui. Pois a eternidade não nos é permitida. Um dia partiremos. Pra onde?

Comecei o dia de hoje antes das horas rotineiras. Chovia e ainda chove no momento. O céu cinzento mostra mais chuva no decorrer do dia. A semana santa ainda no seu começo.

Nem sempre fui um cidadão frequente as igrejas. Mas sempre fui uma pessoa temente a Deus.

 

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