Tá quase…

O quase quase sempre se transforma em depois.

E quantas vezes temos de adiar nossos sonhos.

Amanhã termina. Quiçá de hoje a um mês. Este mês acaba ficando para o semestre que vem.

O ano passa. E nada de ver terminada aquela obra. Que durou mais que o esperado. Graças a uma porção de atropelos. Inevitáveis percalços. Que se interpõem entre o passado e o futuro. Tendo o presente como testemunha inafiançável de nossas pretensões.

Desde há tempos pretéritos tento terminar aquela obra. Ela fica abaixo de uma casa construída à beira lago. Ampla, dois andares majestosos fitam a represa de cima abaixo. Na parte de cima quatro quartos. Duas varandas. Um grande cômodo de banho. Poucas vezes utilizado.

Na parte de baixo, descendo por uma escada pouco inclinada, damos para uma sala de televisão. Um sofá confortável acolhe meu corpo cansado de tantas lutas. Ao lado mais um quarto. Outro banheiro fica localizado perto deste quarto de dormir. Este nunca foi usado. Uma ducha ali instalada espera um dia poder me refrescar em suas águas tépidas.

A parte mais aconchegante da casa fica no andar inferior. Uma sala de jantar, um fogão a lenha, uma churrasqueira que ainda não viu fumaça, dois fogões a gás onde raras vezes foi feita uma comidinha, é onde passo horas e horas pensando na vida.

O mais bonito daquela casa é a enorme varanda que rodeia a edificação. Ela se tornou o achego de passarinhos.  Que ali fazem seus ninhos. São assanhaços, canarinhos da terra, saltitantes bem-te-vis, que acabam chocando seus ovinhos. Quantas vezes percebi pássaros filhotes aprenderem a voar. E muitos deles acabam se tornando presas fáceis a outros predadores alados. Um tucano bicudo vive ali pertinho. A espreita de abocanhar os filhotinhos.

Há coisa de quase um ano, talvez mais, ou seria menos, tive a ideia, infeliz, de construir mais uma dependência daquela casa. Faltava uma piscina. Onde meus netinhos pudessem aprender a nadar.

Esta nova obra dura quase um ano inteiro. Por ali já passaram inúmeros pedreiros. Sempre que por ali passo indago aos engenheiros: “quando esta obra vai terminar”?

Eles sempre me respondem: “tá quase”!

E este quase quase nunca termina. E eu quase nunca pressinto seu fim.

Ontem por ali passei. A obra ainda estava inacabada. Faltavam alguns detalhes.

A área gourmet nem estava coberta. Faltava o telhado inteiro. O piso ainda não havia sido completado. A pia estava por ser instalada. A churrasqueira nem dava sinal de fumaça.

Um tanto quando desiludido com o caminhar da obra, mais parecia a obra inacabada de Gaudi, mais uma vez perguntei ao derradeiro pedreiro recém-contratado: “e aí? Quando vai terminar esta construção”?

Ele, mestre em enganação, me respondeu, num sorriso maroto: “não se apoquente doutor. Tá quase”.

Desta vez quase acreditei. Seria mesmo no ano que vem. Quem sabe quando? Só Deus saberia dizer com exatidão.

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