Eram dois irmãos.
Sebastião, o mais velho, ao nascer o parto foi deveras complicado. Teve o cordão umbilical enrolado ao pescoço. Foi salvo por uma parteira experiente, que o salvou do apertume, permitindo ao mesmo viver muitos anos.
Já o irmãozinho Chico teve destino distinto. Veio ao mundo sem nenhum atropelo. Risonho, era o encanto dos pais.
Ambos cresceram. Tiãozinho não espichou além de alguns centímetros. Era considerado do anãozinho da turma. Sofrendo todo o tipo de bullying na escola.
Já o irmão, Chiquinho, além de bem apessoado era inteligente o menino. Vivia cercado de garotas. Conquanto o infeliz Tiãozinho escondia-se pelos cantos. Evitando mostrar sua carantonha esquisita.
Aos quinze anos os dois irmãos tiveram destinos diferentes. Tiãozinho parou de estudar. Por ser considerado retardado faltou-lhe oportunidade de seguir adiante.
Já o irmão foi caminhando pela vida afora, galgando degraus, até se formar em medicina.
Especializou-se em pediatria. Seu consultório vivia cheio de crianças. Amealhou fama de bom profissional.
Já o infeliz Tiãozinho, aquele considerado ovelha negra da família, conseguiu o primeiro emprego numa lanchonete de periferia. Ali permaneceu pouco tempo. Imputaram-lhe uma culpa que não teve. Um dia alguém afanou um sanduiche. E o infeliz Tiãozinho nunca fez nada que o condenasse. Era honesto até segunda prova. Mas, com aquela aparência esdrúxula, ninguém nele acreditava.
Assim que atingiram a idade adulta, mais uma vez o destino conspirou justamente com quem?
Chiquinho conquistou fortuna. Morava numa mansão bem situada. Conquanto o pobre irmão dormisse ao relento.
Ambos não se viam até certo dia. Era uma manhã de inverno. A temperatura enregelava até os ossos. Infelizes daqueles que dormiam ao relento.
Assim que o doutor Francisco parou defronte a um restaurante, para jantar com a esposa, deram de cara com um mendigo enrolado a um cobertor.
Nele identificou o pobre irmão. O desditoso Tiãozinho, que não via há muitos anos.
Doutor Francisco dele se apiedou. Levou-o a sua casa. Deu-lhe guarida. Forneceu-lhe roupas novas. Em pouco tempo o infeliz Tiãozinho mostrava no corpicho esquálido sinais de recuperação.
Desde aquele dia afortunado Tiãozinho nunca mais passou necessidades. Recuperou a autoestima. E passou a viver às costas do irmão.
Até que, para não faltar com a verdade, na primeira oportunidade surgida, Tiãozinho, durante um passeio na rua, com a carteira repleta de esperanças, apareceu, do nada, um assaltante.
E o gatuno levou quase tudo. Nada restando de bom ao pobre Tião. Além do apelido Desafortunado. Irmão do Chiquinho Consorte.